Racionalidade e sentimentos
O domingo dia 10 de fevereiro apareceu um inquérito num meio de comunicação editado na Galiza no que, entre outros aspetos, refletia a valoração que lhes mereciam @s líderes e colídres parlamentares às e aos votantes de cada uma das organizações, assim como a valoração que tinham destes líderes as e os votantes das outras opções.
Resulta chamativo, de acreditar nos resultados, o caso d@s votantes de uma determinada organização a quem lhes mereciam mais valoração outros lideres que o próprio líder da opção que diziam votar.
Para entender este aparente paradoxo deve-se ter de conta a recente história do nacionalismo galego, porque o que revela o inquérito tem a ver com a valoração outorgada pelos seus votantes às pessoas que hoje estão a liderar as organizações ditas nacionalistas presentes no Parlamento galego.
O assunto faz-me pensar que muitas dessas pessoas têm respostado mais em função de certa simpatia, exacerbada por uma grande campanha mediática, que em base a uma análise fria e razoada. Outra das múltiplas rações que podem justificar este resultado pode ter a ver com que o líder parlamentar da organização que dizem votar não seja ainda muito conhecido.
Nestes momentos pode-se aceitar que, no nacionalismo galego, com representação no Parlamento galego, há dois pólos de referência. Um deles com mais trajetória temporal e o outro de mais recente aparição. Precisamente por isso, o primeiro tem-se visto afetado por um processo de desgaste em função das responsabilidades institucionais que teve de assumir (governos municipais, provinciais e mesmo autonômico) o que tem provocado que uma parte importante do eleitorado galego e d@s seus própri@s votantes o tenham percebido como uma força mais do sistema. Porém a nova organização, que se apresenta como nacionalista, não é que esteja constituída por gente tão nova e sem passado político, senão que há interesse em a fazer aparecer como algo novo e imaculado, mesmo estando aliada com uma organização espanholista também afetada pelo desgaste que provoca a gestão, e com bastante barulho interno, como lhes acontece na Extremadura espanhola e na comunidade autônoma de Andaluzia.
À hora de fazer uma valoração destes resultados é muito importante ter de conta a campanha mediática que se tem feito para promover a figura que os próprios meios sistêmicos denominam, agora sim, como “líder carismático” do nacionalismo galego. É bem curioso, se não for que não nos lambemos o dedo, que esses mesmos meios tenham tanto empenho em promover uma figura aparentemente tão contrária ao modelo que eles mesmos defendem.
Bem certo é, que não serei eu quem lhe negue a importância que teve o seu contributo, junto como outros e outras intelectuais galeg@s, à hora de ajudar a conformar e aperfeiçoar o corpus teórico-ideológico do nacionalismo galego, partindo do legado que nos deixou o grande patriota Alfonso Daniel Castelão.
Aliás, a sua figura parece emerger ex novo, mas sem que se lhe tenha de conta, para nada, o seu percurso anterior. Quando menos à hora de fazer uma valoração sobre a sua pessoa teremos de lhe reconhecer alguma nódoa na sua comprida trajetória política. Não é menor, neste sentido, aquela chamativa relação que manteve com o franquista Manuel Fraga Iribarne, contra o parecer da organização que naqueles momentos representava. Isso leva-me a lembrar a tendência, que tinha daquela, não sei agora, a exacerbar a sua visão personalista na ação política, mesmo refratária ao trabalho organizativo e em equipa. Uma mostra desse proceder temo-lo ao nos deter a examinar a sua participação no que tem a ver com a constituição de diversas forças e correntes políticas dentro do nacionalismo galego e o resultado obtido. Para acabar embarcado num novo experimento aliado com uma organização espanholista e em consequência negadora do direito à autoorganização das classes populares galegas e em conseqüência da nossa realidade nacional e contrária, em definitiva, ao direito inalienável de toda nação a contar com organizações de seu. Manobra política que tive um duplo efeito, já que por um lado permitiu revitalizar uma força unitarista espanhola, com pouca presença na Galiza, até daquela, (visão unitarista que fica perfeitamente à vista com as declarações do senhor Cayo Lara a respeito do processo soberanista aberto em Catalunya); e por outro contribuiu a debilitar ao nacionalismo galego, com o que a defesa dos interesses nacionais galegos ficou mais enfraquecida perante os ataques do imperialismo espanhol.
Por isso acho que o resultado do mencionado inquérito, no que tem a ver com a valoração dos líderes do nacionalismo, ao meu entender, explica-se mais por as valorações respostar a critérios de tipo sentimental, em função do passado, que a critérios e avaliações assentes no raciocínio e na frieza analítica, a partir de dados objetivos do presente.