Que vontade de ter filhos!

Que vontade de ter filhos!

O passado 15 de dezembro um jornal do regime autonómico publicava um artigo com o título La población de Galicia, en caida libre.


Sei o que pensarám alguns dos que, por acaso, leias estas minhas letras. Sei que ninguém deveria ler esse tipo de libelos partidistas e tendenciosos. Mas, como é o diário de referência em boa parte do nosso país, creo que é importante saber com que médias verdades (quando não mentiras inteiras) almorçam os nossos paisanos e cidadãos com direito a voto. Com a ética destes rotativos podemos ser críticos, com a sua capacidade para criar opinião (por chamá-la dalguma maneira) não. Seria bom aprendermos deles nos projectos de jornalismo galego e galeguista.

E este aspeto de criar opinião não é desdenhável em absoluto. A população, que tende a fiar-se do que dizem os papeis, nunca ou rara vez constata a informação que os meios oficiais emitem e, ás vezes, vomitam sobre nós. Bom. Volto à página do jornal em questão.


O artigo, que pouco ou nada engade á ilustração, vem acompanhado de dúas piramides de população com as datas de 1986 e 2017. A comparação resulta eloquente para quem saiba interpretar pirámides de população. A do 2017 não é pirámide nenhuma, tem forma de cogumelo, próprio dum país envelhecido e balorecido polos fugos que se cebam na podrémia.

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Para além disto, outro cabeçalho, na parte inferior e em letra de menor corpo, encarga-se de transmitir a propaganda do governo autónomo: “La Tarxeta Benvida se amplía hasta los 3 años para las rentas más bajas, e incluye a los emigrantes retornados.” Assim (a itálica em Tarxeta Benvida é minha) os redatores dessa santa casa transitam, sem o menor inconveniente lingüístico nem moral, entre o espanhol e isso que muitos chaman “galego”.

Para quem não tenha família em fase reprodutiva devo aclarar que a Tarxeta Benvida é a grande ideia de Feijoo para fomentar a natalidade no país onde morrem máis dos que nascem, no país onde as mulheres e homens em idade de procrear têm de emigrar, em avião e com estudos agora, como nos velhos tempos da Restauração Borbónica do século XIX, o Franquismo e ... Que coincidência! outra Restauração Borbónica imposta polo Franquismo.

A surpresa surge ao lermos os (falsos) niveis de “ingressos” para os que se pretende dar “ajuda”. A ajuda, há de ter-se em conta é de 1200€ ao ano... mas isso não é de todo certo. A administração cobre gastos em farmácia, supermercados e outras superfícies comerciais por valor máximo de 100 euros ao mes em gastos relacionados diretamente com as necessidades da criança (cueiros, leites de fórmula, medicamentos...). Parece que os “técnicos” que nos governam não sabem que uma mãe necessita comer para aleitar á criança? O seu alimento não é reembolsável, ainda que viva com o soldo base interprofessional (735’90€).


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A quantia mensual da “ajuda” resulta paradoxal ante o feito de que os pais que quisserem vacinar os seus filhos de meningite, vacina retirada do calendario das gratuítas do SERGAS com outras como a da hepatite (pouco necessárias, seique) devem pagar do seu peto 140 euros por dose! E são duas doses. Nesse mes a criancinha já não vai ter muitas possibilidades de tomar leite de fórmula nem de usar cueiros à costa da adminsitração autonómica.

Outro assunto é o do reembolso. A Tarxeta Benvida acostuma chegar com tres ou quatro meses de retardo.

Mas ainda resulta mais sangrante ver os máximos publicados polo rotativo para o primeiro ano (45.000 €). Esta soma, que muitos desejariam ganhar, mensalmente corresponde a mais de 3.000 euros! O que não se diz é que computam os ingressos do pai e da mãe, independentemente de qual seja o regime de relação. A mim surpreende-me que poidam fazer declaração do IRPF por separado mesmo cônjuges e para a Benvida de Feijoo seja computado, em qualquer caso, a renda do pai. Com que tenham “legalizado” o produto da sua concupisciência são unidade familiar a efeitos de ajuda ainda que não o forem para ninguma outra questão. Eu pergunto-me: e se o pai ou a mãe não aportarem nada ao outro progenitor por acordo, por desidia, pola causa que for? Qual o critério para computar, sem declaração previa dos progenitores de convivência, os ingressos brutos de ambos os dous? Tal vez não existam mães que decidam criar elas mesmas as suas crianças ainda que o pai biológico aporte o seu apelido?

Os motivos, acho eu, são económicos de certo (assim o número de ajudas fica reduzido ao mínimo porque poucas mulheres com rendas inferiores poderam assumir ter um filho sem ajuda duma família, quer horizontal -conjuge-companheir@-amante-, quer vertical -progenitores-irmãos...-). Mas também há motivos da mais rancia caspa pequeno-burguesita do PP. Se registas o filho ao teu nome, o “bem” é ganancial! Hai que “pagá-lo” a médias. A outra opção é que o pai biológico renuncie (para sempre) mediante declaração jurada a aportar ao menino/a qualquer suporte dinerário ou persoal: Deixa de ser pai! O monoparentalismo é ainda uma possibilidade, no ámbito das ideias, que os cavernícolas dos nossos governantes nin contemplam... Feijoo procurou ser pai, seródio, com parelha conhecida!


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Para o segundo ano a unidade familiar deve ganhar menos de 22.000 €/ano ou, dito doutro modo, 1.833 € brutos ao mes. Dous progenitores mileuristas não teriam direito aos magníficos 600 € do segundo ano para o seu filho! Isto é o que se entende por promover a natalidade, sim senhor! O proletariado é a classe susceptível de ter descendência.

Digo eu, não seria máis útil para a sociedade, no seu conjunto, construir e dotar jardins de infância com horários reais para gente real para que as mães poidam deixar os seus filhos ao final da baixa por maternidade? Não teria melhor uso essa “incrível quantidade de 36 milhões de euros” (ironia) que está orçamentada até 2021 segundo o jornal lacaio, em infraestruturas necessárias e duradouras? Ou mesmo em promover um permisso maternal -ou paternal- para cuidar das ciranças até o ano ou ano e médio, como mínimo? Seria ser muito moderno?

Segundo a lei actual as mães, lactantes ou não, “desfrutam” (o termo resulta irónico de termos em conta que a criança leva todo o esforço, atenção e mesmo o leite da mãe) de permiso de maternidade e de aleitamento até os três meses, aproximadamente. O praço real são 16 semanas. Por outra parte a OMS recomenda como único alimento dos menores de 6 meses o leite materno. Como conseguimos esta quadratura do círculo? Tres meses de permiso mas seis meses de aleitamento como mínimo, com 5 tomas diárias.

A partir de aqui poderiamos tratar a falta de facilidades para compaginar ser mãe (aleitadora ou não) com a profissão ou trabalho de mulher. Mas isso levaria-nos muito tempo e, tal vez, não seja eu o mais indicado para tratá-lo. Não direi mais que isto: mesmo que os empressários proporcionem lugares para se “mungirem” as mães aleitadoras (cousa infrequente por estes pagos) e apliquem a lei para “flexibilizar” o horário, as mulheres mães recentes devem renunciar a passar os primeiros meses de vida com as suas crianças... e de passo depender de persoas contratadas (se podem pagá-las) ou familiares para atender a sua filha ou filho. A alguém lhe surpreende que as mulheres em idade de se reproducirem renunciem a tal responsabilidade?

Apenas há um medio -bom poderia haver mais, mas seriam inconvenientes- para paliar o deficite de natalidade: Dar trabalho com soldos dignos à gente nova do país para que não tenham que emigrar e formar as suas famílias na emigração. Claro que fazer políticas realistas como abrir jardins de infáncia, ampliar os permisos ou facilitar reduções (não adaptações) de horário poderia ajudar... algo.

Post-scriptum

Este post-scriptum é para chamar a atenção aos dirigentes das opções galeguistas e de esquerda com responsabilidade de governo (municipal, provincial ou onde for) para iniciar de forma imediata uma política real de promoção da natalidade. O Concelho de Ponte Vedra, onde eu moro, com governo do BNG já no 18º ano, não aplicou, que eu saiba, ninguma política pró-natal no concelho, nem uma guarderia! Não apenas é Feijoo o insensível.