Propósitos para o novo ano

Propósitos para o novo ano

No jornal “La Voz de Galicia” do dia 11 de dezembro podia ler-se: Galicia atraviesa una crisis poblacional de tal magnitud que ateniéndose a la evolución de su censo actual es como si los últimos 39 años no hubiesen existido. Hoy hay el mismo número de residentes en la comunidad que a mediados de 1975, pero si al final de la dictadura las previsiones demográficas apuntaban todavía a un crecimiento sin límite, hoy lo que no tiene freno en Galicia es la pérdida de población.

Ainda que o artigo fala da migração, própria e alheia, referida ao território da Galiza, podemos acrescentar-lhe a este dado objectivo de crecimento zero o facto do envelhecimento da nossa população. Os menores de um ano não chegam aos 20.000 indivíduos. Esta cifra é preocupante não apenas para a remoção populacional, que de seu é já crítica. Galiza está a “suicidar-se” por desesperança. Galiza como povo e nação carece de espectativa. E nisso lembra os autóctonos caribenhos que se deixavam morrer perante a expectativa de aculturação e escravidão.

Da aculturação temos exemplos bastos. A situação converteu-se em crítica para os membros da RAG que ainda não eram conscientes, seica. E isso que eles foram, voluntária (achegando a teoria justificativa da sua colaboração, como Henrique Monteagudo) ou involuntariamente (como o furibundo, apaixonado e espanholeiro Alonso Montero), cooperadores necessários para essa aculturação massiva.

Há hoje menos falantes menores de 18 anos do que de falantes de 60 ou mais idade. Parez que com o envelhecimento vem aparelhada a perda de falantes mas a coisa é, logicamente, muito mais complexa. Poderíamos dizer, corrigindo Carlos Punzón, autor do artigo citado acima, que 39 anos deram para liquidar uma cultura antiga, altamente diferenciada e resistente mesmo ás ditaduras e políticas de aniquilação.

E contodo, quando um vai ao magno evento chamado Culturgal, sente a extranha sensação de que ninguém tomou conta desta ruína, desta desfeita. Tudo segue igual, com escassíssimas excepções. As editoriais seguem a lançar livros que ninguém le (se não estám indicados para o nível de secundária adequado), feito que não surpreende numa “indústria” incapaz de retroalimentar-se e que, por tanto, vive das doações do poder e das renúncias (pola causa) dos autores. A abertura ao mercado lusófono segue a ser uma anecdota particular dalguns ilusistas (os ilusos que cremos na lusofonia-galeguia) que agora venhem a ser reivindicados mesmo desde a TVG.

Seguimos a olhar-nos o embigo. E mentres acontece o espectáculo lamentável do nacionalismo político. O movemento galeguista, que deveria estar na avangarda da actividade regeneradora e identitária, parez estar narcotizado quando não em permanente desagregação. Uns esgaçando-se em questões de índole persoal mentres outros estám a aguardar um “futuro suntuoso e proletário” que nunca chegará de não fazermos algo... algo senhores. Se quer lembrar ao mundo que ainda temos pulso, constantes vitais, alento...

Destes anos de crise demolidora o nacionalismo galego não está a tirar nenhum proveito. Não aproveitou para elaborar um discurso que chegue á gente, não consegue ilusionar a gente nova, não difunde –sequer– as nossas propostas. Ficamos cada vez mais isolados e ensimesmados.

Agora é o tempo de sairmos á rua e fazer esse “algo”. Não digo manifestar-nos. Isso já o fazemos de mais, até queimar-nos. Digo sair á rua e viver com os nossos vizinhos e compatriotas a crise. Tempo de organizarmos cooperativas laborais que detenham a hemorragia dos jovens (em idade de procriarem) empurrados a sair da nossa terra. Tempo de estabelecermos recursos solidários para auxiliar, preferentemente com trabalhos remunerados e não com caridade, os desempregados.

Sou consciente de que cada quem tem as suas próprias preocupações e temores. Também sei que as cousas não se iniciam sem um motor primeiro e que é necessário coordenar, organizar e financiar os projectos. Mas com ficar imóvel nada pode mover-se, máxime mentres todas as forças seguem a puxar e empurrar contra os nossos interesses.

Há que testar a sociedade para conhecer quê e como devemos agir, e procurar os modos e os meios para começar uma nova geira de actividades e objectivos. É tempo de fazer cousas reais na vida real. E ir adiantando algo, sequer pouco, do que um projecto nacional necessita: uma sociedade viva, uma economia activa, um povo ilusionado. Uma nação em marcha.