Menos mal que somos espanhois!

Menos mal que somos espanhois!

A lealdade ao poder estabelecido é uma constante no devir histórico da nossa infortunada nação e na actualidade não ia ser menos. Como o poder está localizado em Madrid, capital dum estado difuso na mente da pessoas, quanto desde aquele centro de decissão for decidido aqui será assumido por todos… ou, mais bem, pola sociedade.

Durante séculos vimos sofrendo um atrasso económico reconhecido mesmo pola autoridade central quem, através de promessas de equiparação, logrou silenciar as incipientes vozes de contestação ouvidas nos primeiros anos de reinado.

Hoje ninguém lembra já o conceito de atrasso económico nem, por suposto, as promessas feitas para o paliar. Temos progressado muito diz a gente e deve ser verdade: já não vamos em carro do país dum lugar a outro e o asfalto chega a paragens bem afastados. Nem sequer temos que cultivar a terra, que já nos subministram de Almería e Murcia…

O nível de retrasso da Galiza não é uniforme, claro. O rural está mais desatendido que o urbano e nas áreas de montanha mais do que na costa (onde se concentram os núcleos urbanos).

Mas, quê fixo Espanha nestes 30 anos para ponher-nos ao “seu” nível ou ao da Europa?

Modernizou-se, a custo para os gandeiros, o sector lácteo para depois o deixar ser engolido pola maquinaria económica francesa. Lembrem-se aquelas ofertas de leite francês a prezos baixo custo até afundir as nossas lácteas. Hoje o gandeiro vende a prezos irrisórios e o consumidor paga prezos excessivos. O negócio, para as transnacionais lácteas. Que sorte ser espanhol!

No mar a situação é ainda máis desalentadora. Os estaleiros galegos têm desaparecido. Alguém não quer que sigamos produzindo barcos de qualidade, melhor deslocalizar e de passo deixar fora milheiros de trabalhadores da única indústria que merecia tal nome na nossa terra. Da pesca nem falarmos. Madrid trocou quotas de azeite, que beneficiam as oligarquias feudais de Andaluzia e Castela-A Mancha, polas quotas de peixe que capturavam os nossos marinheiros. O processo de desguace segue ante os nossos olhos. É Europa! Menos mal que um estado forte garante os nossos interesses!

Das comunicações todos podemos dar exemplos ilustrativos. Mas repare-se num feito que não parez molestar a ninguém. A autoestrada do Atlântico (AP-9), que serve de ligação e coluna vertebral para o território, é de portagem. A autoestrada de Madrid, nas suas duas variantes... 600 kms de asfalto, desmontes e obras de engenharia É GRÁTIS. Pois este é o método de contribuir ao desenvolvimento dum território atrassado: pagar por irmos do dormitório ao salão da casa e gratis para virem de férias os mesetários. É evidente que a longa autoestrada A6 é o nosso nexo co progresso e co mundo civilizado, que aqui conhecemos como “Madri”, daí que seja gratuíta, mais um modo de contribuir a desenvolvernos. Graças Espanha.

No que atinge aos caminhos de ferro a cousa resulta decepcionante. Cada dia temos um sistema ferroviário mais anémico (há que consumir carros para que Citroën não marche de Vigo, claro). Aínda não conseguiramos ter dupla via para fazer um “metropolitano” interurbano Ferrol-Tui, mas o “trem de velocidade alta” vai encher os nossos espíritos de ledicia. Velai ven, Velai ven avantando dizia Curros. Não vai percorrer 100 kms em vinte minutos porque não teria tempo de “frenada” com tanta estação, mas que importa isso. E por se for pouco chega com 30 anos de demora respeito do Madrid-Sevilha. Eis como a fenda entre Galiza e a Espanha diminui! Que sorte sermos uma parte irrenunciável da Espanha! Quantas vantagens nos trai!

E ainda ficam cousinhas sem importancia por enumerar que os lacaios de Madrid consideram uma fatalidade determinista que não se pode modificar. A saber:

O envelhecimento da população (a gente não tem filho; não é culpa nossa), o desemprego juvenil e a massiva emigração, mais uma vez (a procura de melhores oportunidades ali onde as haja é mesmo bom, eu vou lhes dar uma mala de presente aos melhor formados), o abandono do rural e da produtividade agrícola e florestal (viver “en la aldea” é moi bonito pero moi aburrido), a degradação do nosso património artístico, paisagístico e cultural (mas fornecemos de comodidades para o turismo), a criação de empresas galegas (“subvencionamos” os nomes de lojas em galego) e dum sistema financeiro próprio para este fim...

Na colonia noroccidental do reino de Espanha, a que chamamos “Galicia”, a memória e a capacidade crítica parece terem ficado abandonadas ou, no melhor dos casos, dedicadas a outros fins, será a reconversão!. É mágoa que sejamos sempre os mesmos a falar nisto, uns com os outros. Reflexionar, difundir e educar é também uma maneira de fazer política e isso é algo de que não gosta a canalha colonialista.

Menos mal que somos espanhóis! Não há de que se preocupar... ganhamos o mundial!