Da soberanía ao entreguismo

De aceitarmos a definição de soberania como poder de decisão, ou como direito de um Estado/Nação para exercer os seus poderes; e se por sua vez entender o termo entreguismo, como tendência a vender os interesses pátrios ou próprios a interesses estrangeiros ou alheios, logo chegaremos à conclusão de ser termos antagônicos ou opostos.
No recente VIII Congresso do Sindicato Labrego Galego vimos de assistir ao feito curioso, de por um lado proclamar a sua defesa da soberania, de acordo com o lema que o presidiu: "A soberania alimentar é garantia de futuro", e por outro adotar como acordo mais sobranceiro, do mesmo, o entreguismo de se integrar na organização agrária espanhola Coordenadora de Organizações de Agricultores e Ganadeiros (COAG).
A defesa da soberania alimentar é um conceito introduzido no debate político por primeira vez com certa relevância por Via Campesina no ano 1996 na cimeira mundial da alimentação da FAO.
,Posteriormente a declaração final do Foro Mundial sobre a Soberania Alimentar, celebrado em A Habana, Cuba o 7 de setembro de 2001, definiu-na, no seu ponto 1 como, "o direito dos povos a definir as suas próprias políticas e estratégias sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos que garantam o direito à alimentação para toda a povoação, com base na pequena e mediana produção, respeitando as suas próprias culturas e a diversidade dos modos camponeses, pesqueiros e indígenas de produção agro-pecuária, de comercialização e de gestão dos espaços rurais, nos que a mulher desempenha um papel fundamental".
O ponto 2 diz; "a soberania alimentar favorece a soberania econômica, política e cultural dos povos".
No campo do nacionalismo, a estas alturas, deveria ter-se bem claro que sem soberania política não é possível nem soberania alimentar, nem nacional nem popular. Na Galiza não posse existir soberania política sem organizações próprias, sem a auto-organização das suas classes populares.
E como se combina este princípio elementar da práxis política do nacionalismo galego com a integração de organizações próprias da Galiza em organizações de âmbito estatal?. Dificilmente, pretender isso é como pretender a quadratura do círculo, ou pior ainda, expressa a renúncia a fazer parte do movimento nacionalista galego.
A COAG não é uma simples coordenadora de organizações agrárias a nível do Estado Espanhol. Nessa organização as decisões adotam-se por maioria e têm de ser assumidas por todas as delegações da organização, contando com o mesmo peso a delegação de Galiza como a de Murça, provavelmente mais a de Murça que a da Galiza.
O secretário geral desta organização, Miguel López, deixou muito claro o que é para ele a COAG na apresentação da sua "delegação" na Comunitat Valenciá ao defender a existência da mesma porque "não se entende uma organização sem um apêndice estatal ou europeu...".
A grande argumentação, para justificar a existência desta delegação em Valência, fundamenta-se em que "os interesses que nos afetam decidem-se na Comunitat Valenciá, mas também em Madrid e em Bruxelas".
Curiosamente, e não tão curiosamente, este é o mesmo argumento empregue pelo SLG par justificar o seu entreguismo à COAG. Assim na página web desta organização se pode ler, quando dão conta da resolução adotada no seu Congresso, o seguinte argumento, para a partir dele inferir a necessidade de entrar na COAG, que: "num contexto global no que a maior parte das decisões políticas que afetam à agricultura galega se adotam fora da Galiza, nos organismos oficiais de cidades como Madrid ou Bruxelas".
De acreditar neste argumento, em coerência, deveriam solicitar a desaparição da Conselharia do Meio Rural, porque Galiza carece de competências sobre a matéria, já que as mesmas residem em Espanha (Madrid) e na União Européia (Bruxelas). De fazer caso a este razoamento Galiza tem deixado de existir como lugar onde se adotam decisões sobre o seu sector agro-pecuário e florestal. Será por isso que o SLG, ultimamente, quase deixou de lhe apresentar demandas a esta Conselharia?.
Até o 5 de novembro de 2011 o SLG vinha mantendo um convênio de colaboração com a COAG, mas já no VII Congresso (24 de novembro de 2007) a proposta de se integrar foi objeto de debate e votação. Nesse Congresso pôs-se a votação, por primeira vez, a proposta de integração, apoiada pelo "aparato" ligado à secretaria geral "histórica", que não saiu avante por não conseguir os 2/3 dos votos necessários que estipulavam os estatutos. Depois daquele Congresso produziu-se a expulsão, baixo distintas fórmulas, daquelas pessoas que nos opuséramos à integração. Por fim, desta volta sim conseguirão o que queriam, integrar o SLG na COAG, prévia laminação de toda oposição interna.
Este é o último episódio ou culminação do destino ideológico de quem tinha iniciado uma deriva anti-nacionalista muito tempo atrás.