Da Plataforma pela Defesa do Setor Lácteo galego e da crise láctea galega

O 14 de maio a FRUGA junto com o BNG, a meio dum ato público celebrado perante a delegação da Junta da Galiza em Lugo, apresentamos o “Manifesto em defesa do Setor Lácteo Galego”.
Manifesto no que se fazia um chamamento a todas as pessoas e coletivos que tenham interesses diretos e indiretos no setor com o fim de abrir um debate amplo e assemblear, que não feche portas a nenhuma pessoa nem organização, nova ou velha, para erguer uma resposta coletiva perante desta emergência. A melhor forma de facilitar a participação coletiva seria contar com um âmbito de encontro mediante a constituição de uma Plataforma pela Defesa do Setor Lácteo Galego para defender uma série de medidas provisórias a fim de impedirmos a desfeita do setor. As medidas propostas são:
Assumirmos o setor lácteo como estratégico para a economia galega. Adotar medidas para combater a nova situação criada pela liberalização total de mercados e preços. Posta em marcha de uma Interprofissional Láctea Galega, com critérios não restritivos e com a participação ativa do Governo Galego. Elaboração de um contrato homologado para o leite galego que inclua mecanismos de garantia para os e as produtoras. Preferência pela aquisição de produtos galegos por parte da Administração ou organismos dependentes da mesma, e premer ao Governo Galego para reforçar o irrelevante papel industrial da Galiza neste setor.
Durante os meses de maio e junho foram constantes os sinais de alarma baixo a forma de contratos unilaterais apresentados pelas empresas com preços ainda mais a baixa do que já era habitual e mesmo com contratos sem preço. Mas a final do mês de junho a alarma dispara-se ao deixar a empresa “Lácteos Lence” de recolher o leite a numerosas granjas em muitas comarcas e ver-se obrigadas a deitar o leite nas fossas de xurro ou a vendê-lo a preços insultantemente baixos; a 18 cêntimos quando os custes de produção mais baixos estão estimados nos 30 cêntimos/litro.
Como conseqüência desta situação, o 26 de junho várias granjas de Curtis vêm-se obrigadas a tirar com o seu leite e o 28 de junho tem lugar uma concentração em Curtis para denunciar este agravo, em dias posteriores repete-se este fehe patronal em São Sadurninho, no Deza, em Lugo, na Terra Chã, na comarca do Jalhas, entre outras, perante da total indiferença do Governo Galego do PP.
Com este panorama o Presidente da Câmara Municipal de Boimorto, Xosé Luis Rivas “Mini”, do BNG convoca a todos e a todas as suas colegas a se reunir o dia 6 de julho em Boimorto com o fim mostrar apoio ao sector lácteo e reclamar políticas ativas para revitalizar o rural da Galiza. Algum dos comparecentes manifesta que deveu haver algum problema com a convocatória e que esta possivelmente não chegou a todos os municípios, pelo que se acorda convocar uma nova reunião o dia 14 de julho, pela manhã, na sé da FEGAMP.
Pelo meio, em concreto o dia 10 de julho, a senhora Conselheira do Meio Rural e do Mar convocou uma reunião com as organizações agrárias tradicionais, a representação das cooperativas, as indústrias transformadoras e mais a grande distribuição. Reunião que resultou num grande fracasso por dois motivos; o primeiro porque não se chegou a nenhum acordo para solucionar o problema dos baixos preços, e porque por primeira vez na história deste tipo de reuniões o setor industrial não assistiu, o que vem a demonstrar a nula autoridade que tem esta Conselheira.
O dia 7, pela tarde, constituí-se a Plataforma pela Defesa do Setor Lácteo Galego, não sem certa confusão.
Neste sentido compre fazer as seguintes aclarações; a convocatória da reunião do dia 7 foi feita pela organização trípode da que fazem parte as secções galegas de ASAJA, UPA e COAG, inicialmente para constituir a dita Plataforma, mas já tendo previamente anunciado, pela sua parte, uma manifestação para o dia 17. Aberta a reunião por parte das pessoas que representam à organização trípode dá-se a entender que o motivo da reunião era simplesmente para apoiar a mobilização do 17, deixando expressamente claro o Secretário Geral de UPA-Galiza, que é quem manda, que ali não se ia para constituir uma Plataforma. Mas ao dia seguinte, surpreendentemente, todos os meios de comunicação se faziam eco da formalização da Plataforma pela Defesa do Setor Lácteo Galego.
Perante desta anômala situação outras organizações que estivemos presentes nessa reunião mantivemos conversas entre nós e decidimos dar por constituída com todas as conseqüências a Plataforma e convocar uma reunião da mesma para o dia 14 de julho, reunião à que não se apresentou nenhum representante da organização trípode.
A pressão que exercemos a maioria das entidades que fazemos parte da Plataforma sobre as organizações agrárias tradicionais obrigou-as a convocar uma reunião o dia 23, chegando-se ao acordo de estas três organizações se integrarem efetivamente na Plataforma. De resultas deste acordo saiu à elaboração de um calendário de mobilizações nas comarcas leiteiras da Galiza durante todo o mês de Agosto, iniciando-se a primeira o dia 1 com uma “tratorada” na comarca d´O Jalhas, que foi todo um sucesso.
Previamente o dia 17 julho, em Santiago de Compostela, teve lugar a grande e massiva mobilização do setor lácteo galego. Todo um sucesso de participação equiparável, proporcionalmente, à grande manifestação convocada pela primeira Plataforma pela Defesa do Setor Lácteo Galego que teve lugar o dia 28 de fevereiro de 1987, tendo de conta que naquela altura a Galiza tinha 100.000 granjas de leite e hoje somente 9.500. Este contexto de crise e mobilização obrigou a todas as partes que têm a ver com o setor a mover ficha. A mais dos movimentos relatados anteriormente, a continuação faz-se referência a umas quantas reuniões que vieram provocadas pela crise láctea galega. Assim o dia 6 de julho reúne-se em Madrid a Interprofissional Láctea espanhola no Ministério de Agricultura, sem resultado algum; o dia 10 produze-se a já referida reunião na Conselharia; o dia 13 o PP convoca aos seus Presidentes de Câmaras Municipais com o fim de abortar a reunião convocada pelo Presidente da Câmara de Boi morto para o dia seguinte; o 22, nova reunião no Ministério em Madrid com os mesmos atores e mesmo resultado; dia 31 reunião em Compostela, na Conselharia, com a presença do secretário-geral do Ministério e também sem soluções; e por último, pelo de agora, o 5 de agosto reunião presidida pelo Presidente da Junta da Galiza, com a presença, de novo, do secretário-geral do Ministério, da conselheira de Agricultura, do conselheiro de Indústria, de representantes das organizações agrárias tradicionais, assim como das cooperativas, da indústria e da distribuição. Que se tirou de proveito para o setor produtor destas reuniões? Pois de momento nada efetivo que venha a solucionar o problema dos baixos preços e a garantia de recolhida.
De todo este relato podem-se tirar as seguintes conclusões:
Primeira, podemos estar assistindo a venda definitiva do sector lácteo galego a interesses alheios, mesmo do Estado espanhol, assim como a entrega do mercado lácteo espanhol a esses mesmos interesses, algo parecido ao que passou quando se negociaciou a integração do Estado espanhol na CEE.
Segunda, este é um problema exclusivamente galego, já que aqui se dão umas especiais circunstâncias que não se dão em outras zonas produtoras de leite do Estado, nem da UE. Estas particularidades são; preços insultantemente baixos, 18 cêntimos por litro de leite, quando os custes de produção mais baixos estão estimados em 30 cêntimos, é dizer estão-se perdendo 12 cêntimos em cada litro que se lhe entrega à indústria, assim não se pode sobreviver; as empresas, apesar de se ter suprimido o sistema de quotas lácteas, estão a impor topes de produção às granjas galegas tomando como referência as quotas que tinham antes de estas desaparecerem e se se excedem do topo imposto, o leite excedentário ainda lho pagam muito menos, mesmo com a ameaça de não lho recolher, de novo dizer que isto somente se dá na Galiza, pela contra em Castela-Leão, e não só, estão animando a acrescentarem a produção; e por último, em nenhum outro lugar se deu a situação de ter de tirar o leite por a indústria se negar a recolhê-lo, estamos a falar do que se pode considerar como um feche patronal ou lock out.
Por último, se analisamos o papel do PP e do Governo Galego perante deste grave problema podemos falar de inação, de entreguismo e mesmo de ataque ao setor. O primeiro que fez a responsável do Governo Galego para assuntos agrários, a senhora Rosa Quintana, foi negar taxativamente o problema, essas foram as suas palavras logo da grande manifestação do dia 17, nesse mesmo sentido se expressou o porta-voz parlamentar no Parlamento Galego, Pedro Puy, sem esquecer a manobra do PP de convocar aos seus representantes municipais o dia anterior à convocatória que fizera o Presidente da Câmara Municipal de Boimorto, com o fim de a boicotar, e nesse sentido foram as declarações da Presidenta da Câmara Municipal de Melide. Mas o mais grave é o comportamento do Presidente Feijoo que permaneceu mudo durante todo este tempo até que se dignou convocar a reunião do 5 de agosto.
O resultado prático da mesma foi um estrepitoso fracasso do senhor Feijoo, que não sabe ou não é quem de fazer respeitar os interesses da Galiza perante o Estado espanhol, o que vem a demonstrar a sua irrelevância e daí o seu nulo peso político dentro do partido que se diz está destinado a dirigir a nível estatal. Somente o secretário geral de UPA-Galiza, Roberto Garcia, saiu na sua defesa, e não se sabe muito bem a conto de que, porque o que lhe há que demandar ao senhor Feijoo é responsabilidade e firmeza à hora de defender os setores produtivos da Galiza, neste caso o lácteo.
Neste contexto de crise o último invento ideado pela administração galega é o de apresentarmo-nos um projeto industrial para diversificar a transformação, não podemos estar em desacordo com este tipo de medidas mas não nos gostaria que o seu destino viesse a ser o mesmo que o que sofreu o projeto, ideado por esta mesma administração, de Alimentos Lácteos. Esperemos que esta não seja uma ocorrência para confundir e intentar acalmar ao setor produtor para que não continue com a sua pressão em demanda de soluções efetivas e duradouras.
Hoje quando venho a entregar a minha colaboração conhece-se o resultado da até agora última reunião mantida no Ministério de Agricultura de Madrid, de decepcionante qualificou-no a imprensa sistêmica, mais claro água ou branco e em garrafa: leite
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