Três exemplos
No Líbano tira-se partido da catástrofe para desenvolver uma operação que, à semelhança de acontecimentos ocorridos no quadro das «Primaveras Árabes», visa uma reconfiguração política que pretende amarrar aquele país aos planos imperialistas na região. O que move o imperialismo no Líbano não são os reais problemas que grassam há anos e que têm raiz na forma como se tentou, desde a independência, desenhar um Líbano formalmente «independente» mas realmente confinado aos interesses da ex-potência colonial, a França, e posteriormente do imperialismo norte-americano. É na grande burguesia ligada à alta finança, com profundas ligações aos EUA, à França e à Arábia Saudita, que está a origem e a máquina da corrupção sistémica. O sistema político confessional foi imposto pelo imperialismo para impedir uma verdadeira unidade e independência nacionais e para alimentar essa burguesia. Mas a realidade impôs-se e, sobretudo após a agressão israelita de 2006, a situação política libanesa evoluiu com a afirmação de forças patrióticas, como o Hezbollah, que têm desempenhado um papel real na defesa da soberania e que não têm permitido, como o imperialismo deseja, que o Líbano funcione como plataforma para a guerra na Síria e para a linha de confrontação com o Irão. É isto que faz mover a máquina da ingerência, e não os direitos daquele povo ou a corrupção.
Na Bielorrússia, e independentemente de reais problemas e contradições, é uma evidência que o imperialismo tenta mais uma vez capturar aquele país para a esfera de influência da NATO, dos EUA e da União Europeia e para a lógica de confrontação com a Federação Russa. A receita foi a tradicional: questionamento das eleições e posterior contestação da sua legitimidade e dos seus resultados. À semelhança da «revolução laranja» na Ucrânia, surgem figuras e organizações estrangeiras associadas às manifestações, regadas com violência provocatória e precedidas de caos organizado. Os acontecimentos na Bielorrússia coincidem com o périplo de Pompeo à República Checa, Eslovénia, Áustria e Polónia e à decisão provocatória de reforçar a presença militar dos EUA neste último país. Também aqui o que move o imperialismo não é a democracia nem os direitos daquele povo. Aliás esta não é a primeira vez que se tentam manobras de chantagem e ingerência num país chave no jogo geoestratégico do leste da Europa e que mantém a propriedade pública dos seus importantes recursos. Que não se tenha dúvidas: a agenda em desenvolvimento é uma replicação das «revoluções coloridas» que, recorde-se, instalaram na Ucrânia um regime de natureza fascista.
A Venezuela está a preparar eleições legislativas para 6 de Dezembro. A União Europeia foi convidada para as observar. A resposta foi: não vamos, as eleições não se devem realizar. Entretanto, a União Europeia associa-se a um vergonhoso documento de chantagem, aberta ingerência e provocação, redigido pela Administração Trump e subscrito por governos como os de Israel, Brasil, Hungria, Ucrânia, Bolívia, Colômbia, entre outros, que visa o boicote às eleições venezuelanas. Também aqui o plano é a tentativa de sabotagem das eleições para sustentar o discurso de uma «feroz ditadura».
Estes três exemplos demonstram que mesmo no contexto da pandemia o imperialismo não desiste de uma agenda de confrontação, conspiração e ingerência que tem como objectivo central manter o seu domínio hegemónico e submeter todos os países e povos que lhe façam frente.