Revoluções


Comentando os resultados da 1.ª volta das presidenciais em França, que tirou da corrida os representantes do PSF e dos Republicanos (coisa única, no «bipartidarismo» que tem comandado a França), o maire socialista de Lyon e apoiante de Macron, Gérard Colomb, afirmou que «isto revela um grave mal-estar na sociedade, pois as pessoas deixaram de se reconhecer nos partidos. Mudámos de época». Esta citação foi feita por Jorge Almeida Fernandes no Público, que acrescentou outra citação, a do politólogo Zaki Laidi ex-conselheiro de Manuel Valls, prognosticando uma próxima «revolução francesa», tornada inevitável pela crescente «desconfiança popular perante as elites» e pelas «ansiedades geradas pela globalização e a imigração, pela diminuição da mobilidade social e a crescente desigualdade».

E ninguém aborda, nem ao de leve, a questão primordial: a de que o capitalismo entrou em roda livre desde a queda do mundo socialista e que a ganância insaciável que o caracteriza está a conduzir o mundo para o velho desastre.

As pessoas «deixaram de se reconhecer nos partidos» diz Gérard Colomb, expondo uma conclusão sem cuidar das premissas, que lhe diriam (se as formulasse) que, nas democracias burguesas, os partidos que se eternizam no poder na base de promessas nunca cumpridas e sempre agravadas por políticas impondo os interesses capitalistas, caem sempre no descrédito popular e no descontentamento das massas, por muita demagogia que espalhem, a qual jamais poderá esconder a miséria e as injustiças que se vão acrescentando, indefinidamente.

Veja-se o caso das eleições na Grécia, que varreram do mapa o PS e o PSD lá do sítio por terem levado o país ao desastre, em parelha. A reacção do Eurogrupo (um órgão sem escrutínio popular, que é quem manda na Europa) foi desencadear uma sanha persecutória de uma grande crueldade para com o país helénico.

Mas não tiraram quaisquer ilações da erosão da democracia burguesa tripudiada por sucessivas políticas de direita praticadas mano a mano por PS e PSD locais, preferindo esmagar a rebeldia eleitoral dos gregos com austeridades brutais.

Nessa altura, ninguém dos que mandam na Europa viu que o garroteamento dos povos para locupletar o poder financeiro era um caminho para o desastre.

Agora «respiram de alívio» por Marine Le Pen passar à 2.ª volta com Macron, um arrivista cuja história política se resume à imposição de austeridade, cortes de salários e de direitos como ministro da Economia do presidente Hollande.

Entretanto, o politólogo Zaki Laidi fala de uma nova «revolução francesa» pela «desconfiança popular perante as elites».

Esquece que a Revolução Francesa foi uma ruptura, não a continuidade suicida que se afigura. E até cortou a cabeça às elites.

[Artigo publicado en Avante!]

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