O verdadeiro livro explosivo é o que Trump assinou

O verdadeiro livro explosivo é o que Trump assinou

Quem verdadeiramente manda nos EUA encontrou já a melhor forma de se servir de Trump: entreter os grandes media com as suas palhaçadas e as suas boçalidades reaccionárias, enquanto vai prosseguindo a sua política – que não muda lá porque muda o locatário da Casa Branca. O documento sobre a “Estratégia de Segurança Nacional” aí está para o confirmar. No fundamental, trata-se da continuidade de documento idêntico assinado por Obama, que por sua vez nada divergia do que antes Bush assinara. A diferença é que a situação mundial leva o imperialismo EUA a encarar a carta da guerra como cada vez mais necessária, face à concorrência.

Toda gente fala do livro explosivo sobre Trump, com revelações sensacionais sobre como Donald compõe a franja de cabelo, de como ele e a esposa dormem em quartos separados, o que se diz nas suas costas nos corredores da Casa Branca, o que fez o filho mais velho que, ao encontrar-se com uma advogada russa na Torre Trump em Nova Iorque, traiu a pátria e provocou uma reviravolta no resultado das eleições presidenciais.

Em contrapartida, quase ninguém fala sobre um livro de conteúdo verdadeiramente explosivo, publicado pouco antes e assinado pelo presidente Donald Trump: “NationalSecurity Strategy = Estratégia da Segurança Nacional dos Estados Unidos”. É um documento elaborado periodicamente pelos poderes fortes das várias administrações, e antes de tudo pelos militares. Em relação ao anterior, publicado pela Administração Obama em 2015, o da Administração Trump contém substanciais elementos de continuidade.

O conceito basilar é que para “colocar a América em primeiro lugar para que seja segura, próspera e livre”, é necessário ter “força e vontade para exercer a liderança dos EUA no mundo.” O mesmo conceito era expresso pelo governo Obama (tal como pelos anteriores): “Para garantir a segurança do seu povo, a América deve dirigir a partir de uma posição de força” Relativamente ao documento de estratégia da Administração Obama, que falava da “agressão russa à Ucrânia” e do “alerta sobre a modernização militar da China e a sua presença crescente na Ásia”, o livro da Administração Trump é muito mais explícito: “A China e a Rússia desafiam o poder, a influência e os interesses da América, tentando diminuir a sua segurança e a sua prosperidade.” Dizendo isto os autores do documento estratégico abrem o jogo e mostram o que está verdadeiramente em causa para os Estados Unidos: o risco crescente de perda da supremacia económica face à emergência de novos actores estatais e sociais, com a China e a Rússia na primeira linha. Com efeito, estes estão em vias de adoptar medidas para reduzir o predomínio do dólar que permite aos EUA manter um papel dominante, imprimindo dólares cujo valor se baseia não na capacidade económica real dos EUA, mas no facto de serem usados como divisa mundial.

“A China e a Rússia - sublinha o documento estratégico - querem formar um mundo oposto aos valores e aos interesses dos EUA. A China procura tomar o lugar dos Estados Unidos na região do Pacífico, expandindo o seu modelo de economia sob direcção estatal. A Rússia procura recuperar o seu estatuto de grande potência e estabelecer esferas de influência junto às suas fronteiras. O seu objectivo é enfraquecer a influência dos EUA no mundo e separar-nos dos nossos aliados e parceiros.” Segue-se uma verdadeira declaração de guerra: “Vamos bater-nos com todos os instrumentos do nosso poder nacional para garantir que as regiões do mundo não sejam dominadas por uma única potência”, ou seja, para garantir que todos estejam dominados pelos Estados Unidos. Entre “todos os instrumentos”, está evidentemente incluído o militar, em que os EUA se encontram em posição superior.

Como sublinhava o documento estratégico da Administração Obama, “possuímos uma força militar cujo poder, tecnologia e alcance geoestratégico não têm igual na História da Humanidade; temos a NATO, a aliança mais forte do mundo “. A “Estratégia da Segurança Nacional dos Estados Unidos”, assinada por Trump, envolve também a Itália e os outros países da NATO, chamados a reforçar o seu flanco oriental contra a “agressão russa” e a destinar, pelo menos, 2% do PIB para as despesas militares e 20% do mesmo para a aquisição de novas forças e armas.

A Europa vai para a guerra, mas não se fala deste problema nos debates televisivos: este assunto não é um tema eleitoral.

ARTIGO PÚBLICADO EN http://odiario.info/