O círculo

TO GO WITH AFP STORY "JAPAN-US-NUCLEAR-HISTORY-WWII-HIROSHIMA-ANNIVERSARY" BY HIROSHI HIYAMA This handout picture taken on November, 1945 by US Army and released from Hiroshima Peace Memorial Museum shows the A-bomb Domea, three months after the atomic bomb was dropped by B-29 bomber Enola Gay over the city of Hiroshima. Charred bodies bobbed in the brackish waters that flowed through Hiroshima 70 years ago this week, after a once-vibrant Japanese city was consumed by the searing heat of the world's first nuclear attack. About 140,000 people are estimated to have been killed in the attack, including those who survived the bombing itself but died soon afterward due to severe radiation exposure.  AFP PHOTO / HIROSHIMA PEACE MEMORIAL PARK---EDITORS NOTE---HANDOUT RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / HIROSHIMA PEACE MEMORIAL MUSEUM" - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTSHIROSHIMA PEACE MEMORIAL MUSEUM/AFP/Getty Images

Passam 73 anos de um dos maiores crimes da História: a obliteração nuclear das cidades japonesas de Hiroxima e Nagasáqui pelo imperialismo norte-americano. Perversamente, os mega-serial killers atómicos dos EUA, que há décadas usam armas químicas, biológicas, com urânio empobrecido e outras armas não convencionais contra quem não aceita submeter-se aos ditames imperialistas, acusam as suas vítimas de querer fazer o que eles próprios fazem. A realidade é virada de pés para o ar e a propaganda é cada vez mais absurda, sem ponta de ligação com a realidade.

Segundo a propaganda do imperialismo e seus serventuários na comunicação social, o mundo estaria povoado de ‘ameaças’ e ‘ditadores sanguinários’. Mas todas as guerras do último quarto de Século são obra dos EUA, da NATO e o seu ‘pilar europeu’, a UE, ou do eterno aliado, Israel. As imagens de devastação nalgumas das cidades iraquianas ou sírias recordam as de Hiroxima, ou Pyongyang no final da Guerra da Coreia (1953). O Chefe de Estado Maior General dos EUA, Dunford, confessa que há hoje 300 000 soldados dos EUA em 177 países estrangeiros (www.jcs.mil, 23.7.18)! Mas há 193 países na ONU, logo resta trabalho por fazer. Rufam os tambores de guerra - e os gastos públicos, acompanhados dos lucros privados - contra a ‘recalcitrante’ quinzena de ‘novos Hitlers’ que não querem tropas dos EUA em sua casa.

Há muita histeria sobre a alegada ‘interferência russa’ nas eleições presidenciais dos EUA em 2016. Ironicamente, a revista norte-americana Time fez capa a 15 de Julho de 1996, logo após as eleições presidenciais russas, com um retrato de Boris Iéltsine de bandeirinha americana em punho, e o título: «Yankees ao resgate - A história secreta de como conselheiros americanos ajudaram Iéltsine a ganhar». Eram os tempos em que a História tinha acabado, e a vergonha também. Sem pudor, a Time falava de «várias sondagens falsas», de «publicidade negativa e todas as outras técnicas de campanha americanas». Não chegou a confessar a provável falsificação dos próprios resultados. O caso era sério: uns meses antes, «os resultados das eleições para a Duma, a Câmara Baixa do parlamento russo, foram um severo revés […]. Os Comunistas e seus aliados estavam a caminho de controlar o órgão». E não é para isto que servem as eleições democrático-ocidentais. Se os povos insistem em afirmar a sua vontade, ignorando as «campanhas americanas», há outros mecanismos. Como a brutal violência fascista que assola hoje a Nicarágua - país que há menos de dois anos reelegeu o Presidente da Frente Sandinista com 72% dos votos - repetindo o guião usado contra a Venezuela ‘recalcitrante’.

A barbárie tem escola. Segundo a agência Reuters (29.6.18), «os serviços secretos alemães reconheceram na passada sexta-feira que empregaram a filha do dirigente nazi Heinrich Himmler [chefe das SS e directamente ligado aos campos de extermínio] nos anos 60, embora ela nunca tenha renegado o seu pai ou o nazismo, e tenha permanecido activa no extremismo de direita». A CIA alemã (BND) teve como primeiro chefe, em 1956, o cabecilha da espionagem militar nazi na Europa de Leste, Reinhard Gehlen, que em 1945 - o ano de Hiroxima - prosseguiu a carreira trabalhando para os EUA. Tal como milhares de outros nazis. O círculo fechou-se, para continuar a girar.


Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2332, 8.08.2018