Liberdade de consciência, de religião e de culto

Liberdade de consciência, de religião e de culto

Esta não é uma visita de Estado, como as que o Papa tem realizado em países periféricos, com grandes massas de «pobres e ofendidos» – prioridade na agenda actual da Igreja de Roma. O carácter religioso da visita exigiria reserva e respeito, em vez de velhas e novas tentativas de instrumentalização.

Não cabe ao Partido a análise teológica dos eventos de Fátima em 1917, nem das «aparições», ou como agora se diz – numa nova elaboração teológica que envolve o próprio Ratzinger –, das «visões místicas» de três crianças na Cova da Iria.

Acreditar ou não e em quê é questão de «liberdade de consciência, de religião e de culto, inviolável», em que cada um decide. Tal como as igrejas e comunidades religiosas – «separadas do Estado» – decidem livremente a «sua organização e exercício». Estas são garantias da CRP, conquistas de Abril a defender, para que não aconteçam retrocessos obscurantistas e se avance para um país com futuro, sem questões religiosas de monta.

Uma nota da história de Fátima

Não referindo as questões de natureza religiosa e teológica, importa dar atenção ao processo histórico, em concreto.

Objectivamente, dez mil portugueses foram mortos na primeira guerra e, até 1919, cento e vinte mil foram fulminados pela «gripe espanhola». Em 1917 era muita a fome dos mais explorados e grande o atraso e desespero nas zonas mais pobres do País, como Fátima.

Era primeiro-ministro Afonso Costa, inimigo jurado do movimento operário e que (diz-se) visava «eliminar o catolicismo do País em duas gerações». Confiscou os bens da Igreja e tomou medidas anti-clericais, era apelidado de «mata-frades» (em 1943, Álvaro Cunhal referiu-se aos «erros de intolerância» da República). E foi com o Vaticano de relações cortadas com Portugal que aconteceram as «aparições», em tudo semelhantes às de Lourdes, de 1858.

Religiosidade popular

Fátima criou raízes na religiosidade popular, frequentada por trabalhadores, «povo miúdo», democratas, patriotas, comunistas. Era expectável. As opções humanistas, os valores de paz, justiça e igualdade do «cristianismo primitivo» e o acervo cultural das massas católicas não estão longe de ideais comunistas. E as convicções religiosas não definem a posição de classe, nem impedem a convergência na luta pela transformação social.

O PCP, onde militam muitos católicos e outros crentes, respeita as expressões de religiosidade e valoriza o relacionamento com a Igreja Católica e outras organizações religiosas.

E neste sentido, o PCP, reconhecendo e assumindo diferenças, às vezes significativas, não desiste e persiste em intervir, sempre em defesa dos que menos têm e menos podem, de um País com mais justiça social e de um mundo de Paz.

Neste Pontificado, apesar de inconsequências, as denúncias da exploração, da opressão e da guerra dão mais actualidade às palavras de Álvaro Cunhal, em 1974, em defesa de «boas relações com a Igreja». «Esta política não se baseia em critérios de oportunidade, mas numa posição de princípio. O mundo evolui e a Igreja Católica ... mostra indícios de evolução positiva .... Confiamos que os homens mais esclarecidos da Igreja compreendam a sinceridade e as profundas implicações desta posição do PCP».

[Artigo publicado en Avante!]

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