Feliz, por viver no Brasil, na era Lula
Chegamos a este novo fim de ano esgotados – não fisicamente, porque nem deu para andar muito –, mas de alma. Com todos os sentimentos, ruins e bons.
Raiva, muita raiva, irritação, muita irritação, esperança também – cada vez que sai uma pesquisa e mostra o Lula bem no alto e os outros bem distantes.
Mas chegamos cansados, esgotados, querendo paz. Desesperados por imaginar um ano mais deste inferno. Tristes por imaginar como a grande maioria dos brasileiros, que nem conseguem comer três vezes ao dia, sobreviverão um ano mais.
Olhando pra trás e lembrando tudo o que vivemos neste 2021. Nem sei como conseguimos sobreviver, como tivemos ânimo para seguir cada manhã, sabendo quem está na presidência, quem o acompanha, quem o cerca, quem assalta as arcas do Estado junto com ele. Que imbecilidades ele dirá, como presidente, colocado lá pela direita golpista!
Nos apegamos ao Lula como a única via para sair disto tudo. Me lembro, - e dá arrepio – quando chegou a notícia do câncer do Lula. Dos dilemas que ele tinha que enfrentar. A dor, por ele, e por todos nós, tão dependentes dele.
O que seria o Brasil, o que seriamos nós, sem ele? Nem dá pra pensar.
Podemos confessar agora, que chegamos perto do ultimo réveillon com esse mentecapto e seu clã, que não foi nada fácil. Que oscilamos entre a esperança e a ansiedade, entre o ânimo e o desânimo.
Mas, por incrível que pudesse parecer, há alguns anos, para mim, viver hoje no Brasil é o melhor lugar do mundo. Não pelo país, que sofre, há cinco anos as consequências cruéis da ruptura da democracia.
Mas viver no Brasil na era do Lula salva o Brasil e nos salva a todos. Pelo que o Lula é, como pessoa, como líder, portador de esperança.
Lula é a esperança, o futuro, as possibilidades de sairmos disto para um Brasil muito melhor. Pelo tamanho do desastre que vivemos, só alguém com a liderança dele, com a experiência dele, com a capacidade dele de articular todas as forças necessárias para recolocar o Brasil na trilha da democracia, do desenvolvimento econômico, do combate às desigualdades e da soberania nacional.
Pelas dimensões da tragédia que o Brasil vive, o Lula não é candidato de um partido, nem somente da esquerda. Ele representa o Brasil, a nação brasileira, a energia democrática e a vontade de sobrevivência da grande maioria dos brasileiros.
Olhamos para 2022 com um duplo sentimento: da distância que temos ainda até as eleições e a posse do novo presidente. E da sensação de alívio por ser o último ano desta tragédia em que as oligarquias políticas e econômicas jogaram o país.
Como viveremos cada mês, cada dia, cada noite, cada manhã, até lá? Não dá pra viver cotidianamente a contagem regressiva. Nos faltará o ar para o dia seguinte. E temos que dar cada batalha cada dia. Lutar contra as ideias ainda predominantes que o mercado e seus porta-vozes na mídia espalham. A campanha cada vez mais brutal que darão contra o Lula, o PT, a esquerda.
Temos que encontrar a melhor forma de falar com cada vez mais gente, especialmente com os que estão nas periferias das grandes cidades – que são a grande maioria –, que vivem lutando pela sobrevivência, que não têm acesso à internet, que não têm tempo para nada senão tratar de dar de comer e pagar as contas da família. E encontrar maneiras de falar com a multidão que vive nas ruas, que trata de sobreviver e matar a sua fome, porque já não têm casa. Saber dialogar com a grande maioria que vive na precariedade, nos bicos, nas virações, sem garantia de nada, desamparados.
Temos um grande ano de luta pela frente, até sairmos deste inferno. Será ainda um ano que viveremos em perigo, porque a direita não tem saída democrática para o Brasil e buscará as alternativas que lhe restam para não perder de novo as rédeas do país.
Resta-nos a esperança – a única coisa que não podemos perder, como recorda o Lula. Apegar-nos ao sentimento de sermos felizes por vivermos no Brasil da era Lula.
Por Emir Sader
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