Entre as opções: a intervenção ou a invasão

Não existe só um cenário num conflito onde parece que sua solução está vindo de fora da Venezuela, num tabuleiro geopolítico onde os Estados Unidos contemplam todas as variáveis, trabalha em cada uma delas e sua implementação dependerá das necessidades e condições que se apresentem ou sejam pré-fabricadas, nesta era da pós-verdade.
Em agosto do ano passado, a oposição começou não só a acumular derrotas eleitorais, às quais já estava acostumada, como também a perceber divisões internas mais profundas. A direita venezuelana, quando se vê nesse tipo de desvantagem, apela sempre aos aliados internacionais, que hoje são os Estados Unidos, o Grupo de Lima, a União Europeia e a OEA (Organização dos Estados Americanos). O Secretário de Estado, Rex Tillerson, e o chefe do Comando Sul mantêm as tropas preparadas para atuar junto com os governos subordinados.
Para Washington, o avanço da Rússia e China na América Latina é uma ameaça. A Venezuela é um ponto estratégico nessa disputa, já que as alianças do país com Rússia e China vêm crescendo nos últimos anos, em várias esferas. Ademais, os Estados Unidos sofrem com a necessidade de recuperar o controle da produção petroleira e as reservas do subsolo venezuelano, perdidos desde a chegada ao poder do chavismo, e também de cortar pela raiz o ameaçador projeto popular venezuelano, soberano e latino-americanista.
Depois de sabotar a assinatura do acordo de convivência pacífica que se negociava na República Dominicana, Julio Borges, um dos líderes da oposição, foi à Europa e aos Estados Unidos, estimulando a intervenção estrangeira na Venezuela, com o propósito de derrubar o governo bolivariano. Conscientes de que não ganharão as próximas eleições, optam pela estratégia de levar mais caos à vida cotidiana e fomentar a cisão no seio das Forças Armadas.
A grave crise social, econômica e política que o país vive não é suficiente para deteriorar o peso político do chavismo, e por isso a oposição decidiu romper definitivamente com a via institucional e se lançar ao caminho da violência, o que não significa que os marines vão desembarcar imediatamente nas costas da Venezuela. Por enquanto, há muitas sutilezas, similares às que foram utilizadas na Líbia, em processo que terminou com a destruição do país como nação soberana e o assassinato de Gaddafi.
Tillerson fez recentemente um apelo direto às Forças Armadas venezuelanas, a favor de um golpe de Estado no país, o que significa que, paralelamente, Trump vai radicalizar as agressões econômicas, as operações de guerra psicológica, a guerra midiática e as ações de paramilitares que já estão instalados na Venezuela.
Um levantamento militar não necessariamente derrubaria o governo, mas buscaria se manter vários dias, e justificar a intervenção internacional, para criar um imaginário coletivo de aspecto simbólico, mostrar que a Venezuela se transformou numa sociedade inviável, e que somente a atuação estrangeira pode “restabelecer a normalidade”.
“O trabalho hoje é para pressionar os militares até que ao menos um setor deles se levante contra o governo, dando a senha para que a intervenção internacional seja radicalizada. Os líderes opositores aproveitariam para pedir a imediata ação da comunidade internacional. Seria um golpe de Estado combinado com o Comando Sul e o Departamento de Estado norte-americano”, descreve o ex-diplomata e agora deputado constituinte venezuelano Julio Escalona.
Os líderes militares do golpe teriam a promessa de que um futuro governo se organizaria em torno deles. Dificilmente os dirigentes opositores, com pós-graduação em fracassos, seriam levados a sério pelos invasores. Ou seja, a oposição seria a carne de canhão para entregar o país e suas riquezas às forças invasoras e às empresas multinacionais.
Com a ajuda entusiasta dos líderes opositores, Washington trabalha na conformação de um quadro internacional de desconhecimento prévio do resultado das eleições de abril – e alguns governos já anunciaram que aderem ao bloco – o que abriria o caminho para a campanha visando qualificar o governo de Maduro como uma ditadura, a imposição de maiores sanções diplomáticas, econômicas e financeiras.