As intermitências do crime

As intermitências do crime



Como no livro de Saramago «as intermitências da morte», também em matéria de serviços de informações são recorrentes as intermitências do assassínio, em forma tentada, do seu modelo original, voltando sempre à carga, como no livro, em que a morte envia a «carta violeta», para anunciar o tão almejado desenlace.

Aparentemente, nem se justificaria esta intermitência obsessiva, porque o sistema de informações (SIRP) está estritamente concebido, implementado, dirigido, instrumentalizado, abusado e (pseudo) fiscalizado pelo PS, PSD e CDS, vive na «realidade» virtual, criada na «comunidade de informações», dita nacional, mas com douturamento em Langley-USA, e sob controlo remoto das «agências» NATO.

Aparentemente, bastaria ao PS, PSD e CDS o controlo total dos instrumentos legais do SIRP, mais os ilegais, a coberto do abuso do segredo de Estado – escutas e intercepção de comunicações, metadados e correspondência, infiltracões, tráfico de influências e muitas outras actividades criminógenas, algumas em outsorcing.

Aparentemente, seria suficiente a impunidade com que prosseguem a formação de técnicos, conforme o seu «Manual de Formação» ilegal, e as acções ilícitas de sempre, sem que daí se retirem consequências políticas, com o Secretário Geral Júlio Pareira em funções há doze anos, em governos PS e PSD/CDS – será que agora vai mesmo ser «promovido»?

Aparentemente, bastaria a unificação de facto conseguida de SIS e SIED, fundindo missões de segurança interna e defesa, em conflito com a Constituição, bastaria o vazio de fiscalização, manietada por PSD e PS, e bastaria a nova tentativa deste Governo para acesso aos metadados, apesar da decisão contrária do Tribunal Constitucional e da eficácia da prevenção criminal em situações de risco.

Mas não. Não lhes basta! PS e PSD no Conselho de Fiscalização, para além de mais uns relatórios inócuos e copiados dos anteriores, em que nem as datas se alteram, aí estão de novo a «sugerir» a fusão na Lei. Querem passar a certidão de óbito, fazer esquecer a resistência que muitas vezes travou a perversidade total, querem que o SIRP seja para sempre adverso ao Portugal de Abril.

Como n'as intermitências da morte, um dia vamos devolver a carta violeta e travar o crime.

[Artigo publicado en Avante]

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