A migração estratégica engendrada como arma de guerra

A migração estratégica engendrada como arma de guerra

Depois de ler o título, pode-se pensar que se está a descrever o fenómeno com que a Europa se confronta ultimamente: as centenas de milhares refugiados, tanto as vítimas das agruras de guerras civis como os oportunistas, os quais estão a invadir os Balcãs por terra e mar e então a seguir mais adiante, tentando alcançar países mais ricos como a Alemanha, França e Escandinávia por quaisquer meios possíveis.

Aparentemente este fluxo de refugiados tem razões objectivas: conflitos armados e guerras têm decorrido na Líbia, Síria e Iraque durante muitos anos, ao passo que a situação também é turbulenta na Palestina e no Afeganistão. Na Tunísia e no Egipto, em que ambos experimentaram a Primavera Árabe, a situação também deixa muito a desejar. Dificilmente alguém está a reparar no Bahrain, onde protestos da oposição são brutalmente reprimidos há anos, ao passo que no Iémen são executados ataques aéreos a festas de casamento. A localização destes dois estados não é muito conveniente, contudo – simplesmente não há lugar para onde fugir. Há também um pormenor importante: estão a ser construídos campos para refugiados muçulmanos na Arábia Saudita, mas por alguma razão ninguém está a ir para lá. Como último recurso, eles permanecem na Jordânia e na Turquia.

Haverá alguma razão geral para este desejo frenético de fugir da sua pátria? Parente ricos já estabelecidos na União Europeia, talvez? Ou notícias acerca de benefícios assistenciais com os quais eles poderiam viver com conforto? Afinal de contas, para fazer uma tal jornada eles têm de pagar pelos serviços de passadores. Segundo algumas notícias, estes passadores levam US$4000 a US$10 mil para transportar um único refugiado da Síria ou da Líbia para a Europa. Mesmo que essa pessoa tenha parentes ricos no estrangeiro, receber dinheiro através de transferência bancária é impossível na Síria devastada. Organizar transportes a crédito envolve claramente certas garantias, considerando em especial que muitas vezes os barcos afundam no Mediterrâneo.

Quem está a proporcionar garantia que encorajam centenas de milhares de pessoas a correrem de outros continentes para a Europa e por que?

Investigadores descobriram um facto muito interessante relativo à utilização de redes sociais. Veio à luz que apelos no Twitter para que refugiados viajem para a Alemanha procedem principalmente dos EUA . O tempo gasto a praticar em outros países não foi em vão – desde o Irão durante as eleições presidenciais de 2009 até o Egipto e a Tunísia, onde o papel desempenhado pelas redes sociais na mobilização da população foi considerável.

O que vemos agora é a implementação prática de cálculos teóricos com uma natureza estratégica. Tais estratégias têm estado a desenvolver-se durante longo tempo. Uma delas é um estudo do Belfer Center for Science and International Affairs da Universidade de Harvard que tem o nome de "Migração estratégica engendrada como uma arma de guerra" (" Strategic Engineered Migration as a Weapon of War "), que o autor também utiliza como título deste artigo. O estudo foi publicado pela primeira vez em 2008 no Civil Wars Journal . Utilizando uma combinação de dados estatísticos e análises de estudos de casos, o autor do trabalho, Kelly Greenhill, apresenta resposta para as seguintes perguntas: podem refugiados ser um tipo específico de arma, pode esta arma ser utilizada só em tempo de guerra ou também em tempo de guerra, e quão exitosa pode ser a sua exploração? Na generalidade, Greenhill responde a estas perguntas pela afirmativa.

De facto, investigadores do Belfer Center, bem como investigadores de outros departamentos da Universidade de Harvard, têm trabalhado na concepção de estratégias para a gestão de conflitos no contexto de questões mais vastas de política externa durante muitos anos. O director do Belfer Center, Graham Allison, foi secretário da Defesa Assistente na administração Clinton. Além disso, o Belfer Center também financia a investigação de uma força tarefa especial dedicada à Rússia.

Os EUA estão apenas a pretender que simpatizam com a Europa, a qual está a ser duramente atingida pela onda migratória. Num artigo recente de Richard Haass, presidente da influente organização globalista Council on Foreign Relations que trata de questões europeias, a utilização da palavra "gestão" ("managing") em relação à crise de migração na União Europeia não foi casual. Saboreando os problemas que estão a ser enfrentados pela Europa em consequência do influxo de refugiados, Haass nota que os EUA têm tanto a obrigação de ajudar a União Europeia como interesses estratégicos em relação à Alemanha e à Europa como um todo. Apesar desta "obrigação de ajudar", contudo, não tem havido nenhuma ajuda dos EUA nem no controle da infiltração ilegal de países europeus nem em termos de abrigo temporário de refugiados.

Há também um outro facto interessante. Em 15 de Setembro, Barack Obama assinou uma ordem executiva sobre a utilização de técnicas de ciência comportamental na administração pública. O ramo mais recente da ciência comportamental, conhecido como "Nudge", é nada mais do que o meio mais actualizado de manipular pessoas. A mão de Cass Sunstein, que anteriormente trabalhou no Office of Information and Regulatory Affairs durante a administração Obama, pode ser vista claramente aqui. Juntamente com um colega britânico, ele foi co-autor do livro Nudge: Improving Decisions about Health, Wealth and Happiness , no qual técnicas de manipulação psicológica no contexto da vida diária são ocultadas por trás de palavras bonitas. (Por acaso, a esposa de Sunstein é Samantha Power, embaixadora dos Estados Unidos na ONU.) Não há dúvida de que a técnica "nudge" será utilizada para além das fronteiras dos EUA.

Contudo, a arma mais eficaz, tanto metaforicamente como literalmente, podem ser aqueles migrantes capazes de estabelecer um pequeno grupo de guerrilha para executar actos terroristas subversivos sobre o novo território. É de certa forma interessante que os EUA estejam não só a actuar como hospedeiros daqueles que parecem mais "prometedores" para isto como também estejam a conceder-lhes status de refugiados e residente bem como a protecção oficial do governo estado-unidense.

Tanto quanto se pode julgar a partir de um documento interno recentemente revelado, um relatório especial ao Congresso dos EUA para o ano financeiro de 2014 sobre a questão da migração, preparado pelo US Department of Homeland Security, declara que em 2014 os Serviços de Cidadania e Imigração aplicaram 1.519 isenções a solicitantes individuais concedendo status de refugiado, status de residente e a protecção oficial do governo. E a coisa mais interessante é que de um modo ou de outro todas estas pessoas têm ligações com grupos terroristas e vasta experiência de actividades subversivas.

A lista inclui velhos aliados de Washington, desde exilados cubanos, militantes do Kosovo Liberation Army que por alguma razão não podem viver bem no seu próprio estado criado artificialmente, e muitos outros aliados encobertos e abertos dos EUA. Há membros da Aliança Republicana Nacionalista de Salvador, muito provavelmente aqueles que disparavam sobre opositores políticos durante a Guerra Fria e estão agora a esconder-se da justiça. Há combatentes do Movimento Democrático para a Libertação da Kunama Eritréia – etno-separatistas que se opunham ao governo eritreu. Há a Frente de Libertação do Povo Tigray da Etiópia e a Frente de Libertação Oromo do mesmo país.

A lista também inclui activistas da Chin National Front da Birmânia e sua ala militar, o Chin National Army, os quais são membros da chamada Organização das Nações e Povos Não Representados (Unrepresented Nations and Peoples Organization, UNPO). Membros da Karen National Union, incluindo militantes do Karen National Liberation Army (um grupo étnico que vive na Birmânia e na Tailândia) também receberam de imediato uma quota para viverem nos EUA.

O status de refugiado foi dado a 49 antigos cidadãos iraquianos do Iraqi Democratic Party, do Kurdish Democratic Party e da Patriotic Union of Kurdistan. A lista das "1.519 isenções" também inclui membros de outras organizações que se dedicaram durante muitos anos a conflitos armados.

Pode-se apenas especular sobre a espécie de guerras futuras que os EUA têm em mente se planeiam utilizar tais migrantes como arma.


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/


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Nota da Fundación Bautista Álvarez, editora do dixital Terra e Tempo
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