Produzir para sermos livres

Produzir para sermos livres
Agora mais que nunca evidencia-se a necessidade de contar com um tecido produtivo forte e viável

Desde as primeiras notícias sobre a crise económica até a actualidade os meios de comunicaçom dirigírom os seus potentes focos sobre os aspectos financeiros da mesma ou melhor dito sobre umha parte dos mesmos. Nos primeiros momentos fórom as hipotecas subprime, os títulos lixo, a quebra ou o rescate com fundos públicos de importantes entidades financieras,... No presente os ataques especulativos contra a dívida soberana dalguns Estados-Membros da UE pasárom a ocupar o lugar de destaque nos meios de comunicaçom.

Os aspectos reais da crise recebem, sem embargo, muita menos atençom. Em mais dumha ocasiom referimo-nos a que as origens da crise nom estám na esfera financeira senom que som muito mais profundas. Cumpre buscá-las nas características do modelo de acumulaçom capitalista que se impom trás a crise dos anos setenta. Nom nos referiremos novamente a este aspecto mas a outra questom.

O Partido Comunista Português vem desenvolvendo ao longo dos últimos meses umha campanha que responde à palavra de ordem Portugal a produzir!. Chama a atençom sobre umha política ao serviço do grande capital, emanada da UE, que conduziu a quebras na produçom nacional, ao desmantelamento de importantes sectores industriais e à crescente substituiçom da produçom portuguesa por importaçons.

No próprio EE a adopçom do euro foi acompanhada dum espectacular incremento do défice comercial, um défice que difícilmente teria alcançado semelhante nível se o EE nom adoptasse o euro. P. Krugman num recente artigo afirmava que ao Estado Espanhol lhe iria melhor se nom adoptasse o euro no seu momento, ao que acrescentaba que umha vez dentro está prisoneiro do euro, o que o deixa sem nengumha boa opçom, referindo-se com isto à escolha entre permanecer no euro ou abandoná-lo.

Se o défice comercial do EE ou de Portugal aumentava, outros Estados beneficiavam-se dum notável incremento do seu superávit, entre eles Alemanha. As duas caras da mesma moeda, o processo de construçom da UE. O PIB comunitário concentra-se numha área relativamente reduzida.

O défice comercial exterior tem de ser compensado dalgumha forma, o turismo joga um importante papel mas também a entrada de capitais (umha parte dos quais som créditos) se converteu num elemento fundamental. A contrapartida do défice comercial foi o crescente endividamento exterior da economia do Estado Espanhol, mais de 1'7 bilhons de euros (superior a 160% do PIB) em Julho de 2010 segundo os dados do Banco de Espanha. Umha dívida que na sua imensa maioria é privada; a parte das administraçons públicas, embora crescesse nos últimos tempos, situa-se em 17% e a da autoridade monetária em 6%.

O EE situa-se nos primeiros lugares do ranking da dívida externa, medindo-a mediante a relaçom entre dívida externa e PIB. Sem embargo nom acontece o mesmo com a dívida pública, a pesar da atençom mediática. A percentagem da dívida pública em comparaçom com o PIB mantém-se no EE consideravalmente por baixo doutros Estados que nom sofrem os ataques especulativos contra a sua dívida soberana. De acordo às cifras recolhidas polo Banco de Espanha, em 2009 a dívida bruta nominal consolidada das administraçons públicas (medida de acordo ao Protocolo de Défice Excessivo) sitou-se em 53% do PIB; 20 pontos por debaixo de Alemanha, 25 por debaixo de França, 7 por debaixo de Holanda ou mais de 40 por debaixo de Bélgica. Na actualidade já é superior, porém continua sendo inferior a muitos dos Estados do centro da EU. Por muito que se empregue como escusa de reformas regressivas o volume da dívida pública nom é a causa dos males da economia do EE. Menos ainda quando se trata de inculpar às administraçons autonômicas dessa dívida, no segundo trimestre de 2010 a dívida da administraçom central multiplicava por mais de quatro a das comunidades autônomas.

Elevado endividamento exterior e também elevado endividamento dos fogares, em 2009 as dívidas dos fogares superavam 120% do Rendimento Bruto Disponível. Esta percentagem situava-se por baixo de 50% a finais da década de oitenta. O crescimento do passivo dos fogares tem muito a ver com a bolha imobiliária mas também com umha das características do processo de mundializaçom e do processo de construçom da UE: o facto de que a percentagem do valor acrescentado que vai parar às trabalhadores e aos trabalhadores fosse cada vez menor, noutras palavras, à crescente taxa de exploraçom. Com um peso dos salários decrescente o endividamento tivo um papel fundamental à hora de tirar do consumo e manter o crescimento econômico.

Crescente taxa de exploraçom, concentraçom da actividade produtiva e elevados défices comerciais exteriores, aspectos habitualmente esquecidos polos meios de comunicaçom e que som consubstanciais ao modelo de acumulaçom existente na UE.

O nacionalismo galego véu historicamente denunciando o processo de mundialiaçom e a forma concreta que adopta no nosso caso, a integraçom na UE. Umha crítica que se refere tanto às suas conseqüências para as áreas periféricas e as classes trabalhadoras da UE como ao seu impacto na economia galega.  A crise viu evidenciar a correcçom dessas críticas e a necessidade de adoptar alternativas, muitas delas enunciadas polo nacionalismo galego muito tempo atrás. Alternativas que nom só estám no âmbito financeiro; como a campanha do PCP pom em destaque e como o nacionalismo galego vem defendendo as alternativas ao modelo existente também passam pola esfera da economia real. Alternativas que passam por combater a desigualdade social e a crescente exploraçom do trabalho mas nom só. Agora mais que nunca evidencia-se a necessidade de contar com um tecido produtivo forte e viável, nom se trata de procurar saídas autárquicas mas si de manter umha actividade econômica que permita gerar riqueza e emprego e nom nos torne completamente dependentes do exterior.