Para defrontar o desmantelamento da produção leiteira na Galiza, soberania

Para defrontar o desmantelamento da produção leiteira na Galiza, soberania
Todos os indicadores nos que nos fixemos dão-nos como resultado que Galiza perde peso no setor produtor de leite dentro de Estado espanhol

Todos os indicadores nos que nos fixemos dão-nos como resultado que Galiza perde peso no setor produtor de leite dentro de Estado espanhol.      

Desde a abolição do sistema de contingentação (quotas) da produção leiteira no seio da União Europeia, a partir do 1 de abril de 2015, a produção de leite no Estado espanhol acrescentou-se em 7% a respeito do ano 2013. Neste período Galiza somente o fez em menos de 5%, porém Andaluzia, Castela A Mancha , Valência ou Nafarroa fizeram-no em mais de 11%. Na UE, Irlanda acrescentou a sua produção em mais de 30%, produto de uma decisão soberana do seu governo para se converter na grande potência europeia na produção de leite, mas não somente foi Irlanda quem acrescentou grandemente a sua produção senão que também Luxemburgo o fez em mais de 23%, Bélgica em 16% e o Reino Unido em aproximadamente 10%.

Por outra parte segundo dados dos dez primeiros meses de 2015, Galiza importou mais da metade do leite líquido que entrou no Estado espanhol. Assim na Galiza entraram 145 mil toneladas, a maior parte procedente de Portugal, o que representa o 50,5% do total do que entrou no Estado, 287 mil toneladas.

Dentro da lógica do capitalismo europeio a circulação de mercadorias no seio da UE não tem a consideração propriamente de importação, pelo que a entrada de leite procedente de outros Estados Membros no mercado espanhol, mercado deficitário em mais 1,5 milhões de toneladas de leite e derivados lácteos, não se pode considerar como uma importação. Mas si resulta ilógico que entre leite líquido na Galiza, quando aqui se dão duas circunstância que fazem inexplicável esta movimentação; porque por um lado temos que aqui se estão a pagar os preços mais baixos de todo o Estado espanhol e dos mais baixos da UE, e por outro porque, neste momento, há granjas galegas às que as empresas às que lhe estavam a entregar o seu leite lho deixarão de recolher, com o agravante de que não têm alternativa,  já que nenhuma outra empresa se quer fazer carrego da recolhida nas mesmas condições, vendo-se obrigadas a vende-lo a preços inferiores a 18 cêntimos, quando os custes de produção estão ao redor dos 35 cêntimos.

O preço médio na Galiza, no mês de dezembro foi de 0,288€, sendo o preço médio no Estado espanhol, incluído o galego, de 0,310€, isto é mais de 2 cêntimos em litro a respeito do preço pago na Galiza. Mas de nos fixar nos preços pagos em Andaluzia ou no País Vasco (Hego Euskal Herria) comprovamos que estes são superiores em mais de 5 cêntimos. Nenhuma outra parte do Estado cobra o leite por baixo dos 30 cêntimos.

Por lógica de mercado, o leite que entra na Galiza teria de ser comprado por baixo do preço que se está a pagar aqui, a maiores haverá que lhe acrescentar o custe de transporte, custe que está estimado em 3 cêntimos por litro. Fica claro que algo escuro e inexplicável se move no mercado lácteo da UE; ou bem o que entra não se corresponde com os parâmetros de qualidade do leite standard estabelecidos na UE ou está-se a praticar dumping. Em tudo caso corresponde-lhe às administrações, tanto galega como estatal, controlar este fluxo comercial. Por outra parte não estaria demais que as empresas que operam na Galiza e que estão a importar este leite nos explicaram à sociedade galega como se justifica que estejam a se aprovisionar de leite de fora ao tempo que deixam o nosso sem recolher ou pagando-o a preços inacreditavelmente ridículos.

Outra mostra mais do processo de emagrecimento ou deslocalização e pelo tanto desmantelamento do setor lácteo galego temo-lo em que entre janeiro e novembro de 2015 fecharam no Estado espanhol 599 granjas, das que 425, é dizer o 71%, eram galegas, a seguinte zona mais afetada foi a de Castela Leão e aqui somente desaparecerão 68. Curiosamente a finais do mês passado ficamos surpreendidos com a notícia de uma presumível cooperativa impulsar em Sória a granja leiteira mais grande de Europa, com um investimento de ao redor de 50 milhões de euros, com a geração de mais de 300 postos de trabalho entre diretos e indiretos e com mais de 15.000 vacas.

Com tudo e isso Galiza ainda segue a ser a primeira zona produtora de leite do Estado, concentrando mais do 55% das granjas e produzindo mais do 38% de todo o leite, mas o que si é certo é que, neste caso, passamos de representar o 40% da produção ao atual 38%.

Resulta anormal o comportamento tanto da indústria láctea galega como espanhola que perante à eliminação do sistema de quotas, na medida em que sendo conhecedoras de que a partires do 1 de abril de 2015 iam poder dispor de leite em quantidade para poder fornecer o mercado lácteo espanhol, mercado deficitário, não se prepararam para defrontar este repto. Este proceder resulta ainda mais inexplicável de o comparar com os investimentos de mais de 5.500 milhões de euros feitos pelas indústrias lácteas europeias neste últimos anos. Outros fizeram os deveres nós não. Porque seria?

Perante deste panorama (desaparição massiva de granjas, preços baixos, volumosas importações de leite, falha de projetos tangíveis para dar-lhe valor acrescentado ao nosso leite) a Conselharia do Meio Rural dedica-se a dar boas palavras mas não faz nada por liderar o sector leiteiro espanhol, a começar por estruturar o sector lácteo galego. A dia de hoje na Galiza carecemos de um foro de interlocução onde estejam presentes todos os atores intervenientes na cadeia de valor do leite, desde a produção até o consumo passando pela transformação e a comercialização.

A seguir passo a reproduzir extratos de um documento de valoração e propostas elaborado, a primeiros de 2012, pelo BNG a respeito do que já é a nova PAC, no que tem a ver com a proposta de eliminação do regime de quotas. Dizia-se já naquele momento que “a eliminação do sistema de quotas ia pôr numa difícil  situação às granjas galegas, deixando-as numa posição de partida de desvantagem  competitiva face às granjas de outras zonas num mercado liberalizado”, para mais adiante propor que “desde o nosso ponto de vista (BNG) se deveria manter um sistema de contingentação (controlo) da produção e redistribuir os direitos de produção entre Estados, tendo de conta o balanço produção/consumo e também seguindo critérios de carácter social.”

A dia de hoje já há Estados dentro da UE, como o francês, que estão a reclamar medidas estruturais para controlar a produção láctea. Mas como se diz na proposta do BNG, este controlo tem de ser feito atendendo aos critérios expostos e não em base a referências históricas, que sempre primariam o atual “statu quo”.

O texto acima reproduzido não é mais que outra mostra do acertado das análises feitas pelo nacionalismo galego, assim como das propostas elaboradas a partir das mesmas. Diagnoses feitas sempre partindo do princípio da defesa dos nossos interesses coletivos. E é neste tipo de alternativas nas que se materializa o que entendemos no nacionalismo por soberania nacional, todo o contrário a um conceito retórico e teórico ou místico e identitário, senão algo concreto e que serve para melhorar as nossas condições de vida sobre esta terra nossa.

Mas o grande repto que temos no nacionalismo, em muitos campos, é tornar a teoria em praxe, para o que temos de nos dotar da ferramenta necessária para tal fim. Esta ferramenta não pode ser outra, neste caso, que a de fornecer-nos da uma estrutura sectorial que lhe permita ao nacionalismo trasladar as suas análises e alternativas. De estar-mos de acordo nesta conclusão torna-se imprescindível que todas as pessoas nacionalistas que atuamos neste campo trabalhemos mais coordenadas e de ser possível numa mesma organização de nós. Soberania também é dispor de organizações próprias, sem dependências.

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Nota da Fundación Bautista Álvarez, editora do dixital Terra e Tempo
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