No primeiro aniversário das mobilizações do setor leiteiro galego
As mobilizações levadas a cabo na Galiza obrigaram às distintas administrações a mover ficha
Nos primeiros dias de julho do ano passado, apesar das reticências de algumas organizações agrárias, constituía-se a Plataforma pela Defesa do Setor Lácteo Galego para dar resposta à crise que vinha arrastando o setor, caracterizado fundamentalmente pelos baixos preços impostos pelas empresas recolhedoras.
A partir desse momento iníciou-se um processo mobilizador que se alongou durante todos os messes do verão de 2015, mesmo chegando a se prolongar até o mês de dezembro, coincidindo com a campanha eleitoral das eleições gerais do dia 20.
As mobilizações levadas a cabo na Galiza obrigaram às distintas administrações a mover ficha. Na Galiza o próprio presidente da Junta, o senhor Feijoo, vira-se forçado a se reunir com a Plataforma, quando inicialmente lhe negara todo tipo de representatividade, com o objetivo de intentar transmitir à sociedade galega a imagem dum governo preocupado pela situação e disposto a dialogar. Mesmo nesse período de tempo celebraram-se na Galiza várias reuniões com a conselheira, que não se traduziram em resultados satisfatórios. Nestes momentos ainda estamos esperando pelas propostas da comissão de trabalho que a conselharia constituiu em fevereiro, e que segundo a informação de que disponho tão só se reuniu duas vezes.
O governo de Madrid, através do Ministério de Agricultura, também intentou aparecer perante a opinião pública, sobre todo galega, como que fazia algo, com a assinatura o 23 de setembro do “Acordo para a estabilidade e sustentabilidade da cadeia de valor do setor de vacum de leite”, mas quando se esta às portas de cumprir um ano da sua assinatura o balanço que se pode tirar à luz dos dados e dos feitos conhecidos, é que não serviu para mudar o rumo, algo que já prognosticamos num artigo anterior.
Segundo dados oficiais, na Galiza temos 8.806 granjas de leite, a junho de 2016, quando em junho de 2015 tínhamos 9.425, isto quer dizer que num ano Galiza perdeu 619 granjas. As nossas granjas seguem a cobrar o preço mais baixo de todo o Estado espanhol, 0,269€/l, sendo a média no Estado de 0,288€/l, e como já vem sendo habitual não há nenhuma outra zona na que se pague menos que na Galiza, apesar de as qualidades do nosso leite ser mesmo superiores ou iguais às do Estado. O leite galego tem de média um 3,69% de gordura (materia grasa, em espanhol), quando no Estado está em 3,58%, e em proteína o nosso está em 3,19% ao igual que a média do Estado. Pelo tanto não há nenhuma razão objetiva para que na Galiza se pague menos que em outras zonas, a não ser que o único que importe seja a conta de resultados das empresas que operam na nossa terra. Todos estes dados vêm deixar em evidência a nula implicação das administrações públicas por resolver a crise, já prolongada, que padece o setor produtor de leite da Galiza.
Que a situação não tem melhorado, não somente na Galiza senão também no resto da UE, demonstra-o a reunião, celebrada no mês de maio, pelas autoridades comunitárias (ministros e ministras dos distintos governos) para tratar da crise do setor lácteo europeu. O próprio comissário de agricultura, Phil Hogan, reconheceu que “a situação é muito grave”.
Mas as propostas que chegam de Bruxelas, e que aplicam cegamente tanto o governo espanhol como galego, pretendem seguir aprofundando nas suas políticas de “livre” mercado, negando-se a intervir sobre um mercado monopolizado pelas grandes corporações agro-alimentares, e limitando-se a pôr parches, via ajudas, para narcotizar ao setor enquanto olham como este se vai extinguindo paulatinamente.
Existe um grande consenso em todo o setor produtor da UE a respeito de quais são as medidas a seguir. Estas passam por implementar mecanismos de intervenção que permitam reduzir a produção e assim favorecer a suba dos preços. Contudo se esta redução não se efetuar a nível europeu, e sobre tudo nos estados que mais acrescentaram a sua produção, pode acabar provocando que os estados excendentários transfiram os seus excedentes aos estados deficitários, como o espanhol, agravando ainda mais a crise em zonas como Galiza.
Organizações agrárias como a FRUGA vêm demandando a intervenção pública que permita regular a produção, estabelecendo volumes máximos, por pessoa ativa, ligados a um preço que permita cobrir, quando menos, os custes de produção.
Na Galiza levamos longo tempo demandando do Governo galego a elaboração dum plano estratégico que caminhe cara a conformação de um grande grupo lácteo galego, e entanto não se dá chegado a esta meta é obriga da administração galega estabelecer conversas com as grandes indústrias que operam na Galiza com o fim de ir regulando umas relações equilibradas e não baseadas na imposição e na força, tal como hoje está a ocorrer.
Porém a Conselharia do Meio Rural optou por todo o contrário, promovendo a multiplicação, que não diversificação, de iniciativas transformadoras e comercializadoras, que mesmo se podem converter em reinos de taifas a competir entre sim, e que no caso de fracassarem a administração não duvidará em lhes botar a culpa aos e às promotoras pela sua à má gestão, mas em nenhum caso vai assumir o seu comportamento irresponsável. Este jeito de proceder vai diametralmente a contra dos interesses de o setor lácteo galego contar com um único, mas diversificado, instrumento de transformação e comercialização do nosso leite.
Perante deste cenário, e quando se cumpre o primeiro aniversário do início das grandes mobilizações a sensação de cansaço e de estar batalhando em solitário, sem o apoio e o amparo da administração galega, contra um muro de perpianho se tem instalado no setor produtor lácteo galego.
Mas esta perceção também é atribuível à situação na que se encontra o grande instrumento de defesa que tem o setor; a Plataforma.
Já desde o momento da sua constituição houve intentos de monopolizá-la mediante a exclusão de determinadas organizações agrárias como FRUGA, para mais adiante assistir a múltiples movimentos para provocar a divisão do setor e da Plataforma, ações levadas a cabo tanto por parte de organizações agrárias de âmbito estatal como pelo próprio governo galego a meio do partido político que o sustenta, o PP.
Como resultado destas manobras, assim como pela torpe e imprudente atuação de determinados atores individuais integrados na Plataforma e da debilidade e divisão entre as organizações agrárias, a Plataforma, nestes momentos, encontra-se desativada. Conjuntura da que se aproveitam enormemente tanto as empresas para atuar com toda liberdade para impor as suas condições, assim como às administrações por se encontrar libertadas de render contas da sua nula atuação.
Eis o grande trabalho que fica por diante para organizações agrárias que coma FRUGA têm a sua razão de ser na defesa dos interesses da agricultura galega, tentar restabelecer e revitalizar essa grande ferramenta que é a Plataforma
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Nota da Fundación Bautista Álvarez, editora do dixital Terra e Tempo: As valoracións e opinións contidas nos artigos das nosas colaboradoras e dos nosos colaboradores -cuxo traballo desinteresado sempre agradeceremos- son da súa persoal e intransferíbel responsabilidade. A Fundación e mais a Unión do Povo Galego maniféstanse libremente en por elas mesmas cando o consideran oportuno. Libremente, tamén, os colaboradores e colaboradoras de Terra e Tempo son, por tanto, portavoces de si proprios e de máis ninguén.
Nos primeiros dias de julho do ano passado, apesar das reticências de algumas organizações agrárias, constituía-se a Plataforma pela Defesa do Setor Lácteo Galego para dar resposta à crise que vinha arrastando o setor, caracterizado fundamentalmente pelos baixos preços impostos pelas empresas recolhedoras.
A partir desse momento iníciou-se um processo mobilizador que se alongou durante todos os messes do verão de 2015, mesmo chegando a se prolongar até o mês de dezembro, coincidindo com a campanha eleitoral das eleições gerais do dia 20.
As mobilizações levadas a cabo na Galiza obrigaram às distintas administrações a mover ficha. Na Galiza o próprio presidente da Junta, o senhor Feijoo, vira-se forçado a se reunir com a Plataforma, quando inicialmente lhe negara todo tipo de representatividade, com o objetivo de intentar transmitir à sociedade galega a imagem dum governo preocupado pela situação e disposto a dialogar. Mesmo nesse período de tempo celebraram-se na Galiza várias reuniões com a conselheira, que não se traduziram em resultados satisfatórios. Nestes momentos ainda estamos esperando pelas propostas da comissão de trabalho que a conselharia constituiu em fevereiro, e que segundo a informação de que disponho tão só se reuniu duas vezes.
O governo de Madrid, através do Ministério de Agricultura, também intentou aparecer perante a opinião pública, sobre todo galega, como que fazia algo, com a assinatura o 23 de setembro do “Acordo para a estabilidade e sustentabilidade da cadeia de valor do setor de vacum de leite”, mas quando se esta às portas de cumprir um ano da sua assinatura o balanço que se pode tirar à luz dos dados e dos feitos conhecidos, é que não serviu para mudar o rumo, algo que já prognosticamos num artigo anterior.
Segundo dados oficiais, na Galiza temos 8.806 granjas de leite, a junho de 2016, quando em junho de 2015 tínhamos 9.425, isto quer dizer que num ano Galiza perdeu 619 granjas. As nossas granjas seguem a cobrar o preço mais baixo de todo o Estado espanhol, 0,269€/l, sendo a média no Estado de 0,288€/l, e como já vem sendo habitual não há nenhuma outra zona na que se pague menos que na Galiza, apesar de as qualidades do nosso leite ser mesmo superiores ou iguais às do Estado. O leite galego tem de média um 3,69% de gordura (materia grasa, em espanhol), quando no Estado está em 3,58%, e em proteína o nosso está em 3,19% ao igual que a média do Estado. Pelo tanto não há nenhuma razão objetiva para que na Galiza se pague menos que em outras zonas, a não ser que o único que importe seja a conta de resultados das empresas que operam na nossa terra. Todos estes dados vêm deixar em evidência a nula implicação das administrações públicas por resolver a crise, já prolongada, que padece o setor produtor de leite da Galiza.
Que a situação não tem melhorado, não somente na Galiza senão também no resto da UE, demonstra-o a reunião, celebrada no mês de maio, pelas autoridades comunitárias (ministros e ministras dos distintos governos) para tratar da crise do setor lácteo europeu. O próprio comissário de agricultura, Phil Hogan, reconheceu que “a situação é muito grave”.
Mas as propostas que chegam de Bruxelas, e que aplicam cegamente tanto o governo espanhol como galego, pretendem seguir aprofundando nas suas políticas de “livre” mercado, negando-se a intervir sobre um mercado monopolizado pelas grandes corporações agro-alimentares, e limitando-se a pôr parches, via ajudas, para narcotizar ao setor enquanto olham como este se vai extinguindo paulatinamente.
Existe um grande consenso em todo o setor produtor da UE a respeito de quais são as medidas a seguir. Estas passam por implementar mecanismos de intervenção que permitam reduzir a produção e assim favorecer a suba dos preços. Contudo se esta redução não se efetuar a nível europeu, e sobre tudo nos estados que mais acrescentaram a sua produção, pode acabar provocando que os estados excendentários transfiram os seus excedentes aos estados deficitários, como o espanhol, agravando ainda mais a crise em zonas como Galiza.
Organizações agrárias como a FRUGA vêm demandando a intervenção pública que permita regular a produção, estabelecendo volumes máximos, por pessoa ativa, ligados a um preço que permita cobrir, quando menos, os custes de produção.
Na Galiza levamos longo tempo demandando do Governo galego a elaboração dum plano estratégico que caminhe cara a conformação de um grande grupo lácteo galego, e entanto não se dá chegado a esta meta é obriga da administração galega estabelecer conversas com as grandes indústrias que operam na Galiza com o fim de ir regulando umas relações equilibradas e não baseadas na imposição e na força, tal como hoje está a ocorrer.
Porém a Conselharia do Meio Rural optou por todo o contrário, promovendo a multiplicação, que não diversificação, de iniciativas transformadoras e comercializadoras, que mesmo se podem converter em reinos de taifas a competir entre sim, e que no caso de fracassarem a administração não duvidará em lhes botar a culpa aos e às promotoras pela sua à má gestão, mas em nenhum caso vai assumir o seu comportamento irresponsável. Este jeito de proceder vai diametralmente a contra dos interesses de o setor lácteo galego contar com um único, mas diversificado, instrumento de transformação e comercialização do nosso leite.
Perante deste cenário, e quando se cumpre o primeiro aniversário do início das grandes mobilizações a sensação de cansaço e de estar batalhando em solitário, sem o apoio e o amparo da administração galega, contra um muro de perpianho se tem instalado no setor produtor lácteo galego.
Mas esta perceção também é atribuível à situação na que se encontra o grande instrumento de defesa que tem o setor; a Plataforma.
Já desde o momento da sua constituição houve intentos de monopolizá-la mediante a exclusão de determinadas organizações agrárias como FRUGA, para mais adiante assistir a múltiples movimentos para provocar a divisão do setor e da Plataforma, ações levadas a cabo tanto por parte de organizações agrárias de âmbito estatal como pelo próprio governo galego a meio do partido político que o sustenta, o PP.
Como resultado destas manobras, assim como pela torpe e imprudente atuação de determinados atores individuais integrados na Plataforma e da debilidade e divisão entre as organizações agrárias, a Plataforma, nestes momentos, encontra-se desativada. Conjuntura da que se aproveitam enormemente tanto as empresas para atuar com toda liberdade para impor as suas condições, assim como às administrações por se encontrar libertadas de render contas da sua nula atuação.
Eis o grande trabalho que fica por diante para organizações agrárias que coma FRUGA têm a sua razão de ser na defesa dos interesses da agricultura galega, tentar restabelecer e revitalizar essa grande ferramenta que é a Plataforma
-------------------------------------------------------------------------------------------------
Nota da Fundación Bautista Álvarez, editora do dixital Terra e Tempo: As valoracións e opinións contidas nos artigos das nosas colaboradoras e dos nosos colaboradores -cuxo traballo desinteresado sempre agradeceremos- son da súa persoal e intransferíbel responsabilidade. A Fundación e mais a Unión do Povo Galego maniféstanse libremente en por elas mesmas cando o consideran oportuno. Libremente, tamén, os colaboradores e colaboradoras de Terra e Tempo son, por tanto, portavoces de si proprios e de máis ninguén.