Lenine e o imperialismo

A palavra imperialismo – originária do latim – é muito anterior ao aparecimento do moderno imperialismo como realidade politica, social e económica

A palavra imperialismo – originária do latim – é muito anterior ao aparecimento do moderno imperialismo como realidade politica, social e económica.

Mas foi Lenine quem pela primeira vez chamou a atenção para a ameaça que a nova fase do imperialismo significava para a humanidade, o que exigia uma estratégia revolucionária.

O seu livro – O Imperialismo fase superior do capitalismo – foi publicado em 1917, meses antes da Revolução de Fevereiro, que derrubou a monarquia autocrática russa.

A Associação Cultural Diário Liberdade lançou agora uma edição em galego dessa obra hoje um clássico do marxismo. [1]

No prefácio, que escreveu em Petrogrado em Abril de 17, Lenin esclarece que algumas passagens da versão original foram por ele mutiladas para que a censura czarista autorizasse a sua distribuição na Rússia. Viu-se forçado, por exemplo, a substituir Rússia por Japão para iludir os censores do czar.

No prefácio para as edições francesas e inglesa, publicadas em 1920, dirigindo-se aos leitores da Europa Ocidental, caracteriza a guerra de 1914-18 como um conflito "pela partilha do mundo, pela divisão e distribuição das colónias, das esferas de influencia do capital financeiro, etc". Acrescenta aliás que "as guerras imperialistas são absolutamente inevitáveis enquanto subsistir a propriedade privada dos meios de produção".

Um terceiro prefácio, da responsabilidade da Editora Diário Liberdade, confere à iniciativa uma grande atualidade. Os leitores apercebem-se de que, transcorrido quase um século, a reflexão de Lenin sobre a natureza do imperialismo no início do século XX os ajuda muito a compreenderem a complexidade de grandes problemas contemporâneos não obstante as prodigiosas mudanças ocorridas no mundo desde então.

Lenin foi o primeiro marxista a aperceber-se das consequências do domínio avassalador dos monopólios na nova fase do imperialismo. No seu livro – a que chamou folheto – inova também ao desmascarar a manobra da burguesia que criou "a aristocracia operária" para dividir a classe trabalhadora.

O prefácio da edição galega lembra que Lenin antecipou a importância que iriam assumir revoluções democráticas e nacionais em países atrasados (casos da persa, da turca e da chinesa) e as lutas contra o colonialismo e o imperialismo.

"As lutas nacionais – escrevem os editores – serão cada vez mais ingredientes, progressistas e revolucionárias frente ao domínio dos monopólios, o que exige a sua integração na estratégia do movimento comunista internacional".

Os cinco pontos referidos por Lenin para definir o capitalismo monopolista da sua época mantêm atualidade na caracterização do imperialismo deste início do terceiro milénio.

"A concentração da produção e do capital, mediante a hegemonia dos monopólios, tem avançado inexoravelmente durante o ultimo século – sublinham os editores –; a fusão entre capital bancário e industrial, que hoje já converteu o capital financeiro em dominante sobre o industrial e comercial; a exportação de capitais que liga diretamente com a teoria marxista da dependência, desenvolvida principalmente por autores marxistas latino-americanos a partir das decidas de 60 e 70 [NA] , de especial interesse na dialética colonial centro-periferia, soberania-dependência e do papel que, no caso da Galiza o nosso país ocupa na divisão internacional do trabalho, a repartição do mundo entre as grandes potências, cuja culminação não só não impede que continuem os conflitos, com os estende às regiões do globo de interesse extrativo, energético e geoestratégico".

Considero útil transcrever dois parágrafos do livro de Lenin. Facilitam a compreensão da crise estrutural que o capitalismo enfrenta:

"Por outras palavras o velho capitalismo, o capitalismo da livre concorrência, com o seu regulador absolutamente indispensável, a Bolsa, passa à história. Em seu lugar apareceu o novo capitalismo, que tem os traços evidentes de um fenómeno de transição que representa uma mistura da livre concorrência com o monopólio".

"O velho capitalismo caducou. O novo constitui uma etapa de transição para algo diferente. Encontrar 'princípios firmes e fins concretos' para a 'conciliação' do monopólio com a livre concorrência é naturalmente uma tarefa votada ao fracasso".

Lenin, ao escrever o seu livro em vésperas de uma revolução que abalaria o planeta, tinha plena consciência de que o capitalismo monopolista na sua fase de transição não era estático. Estava em permanente transformação.

O futuro imediato era imprevisível.

A vitória da Revolução de Outubro foi um dos acontecimentos mais maravilhosos da Historia da Humanidade. Mas o socialismo não se implantou na Europa Ocidental e, hoje a Rússia, destruída a URSS, é um país capitalista.

Nem por isso – repito – o livro de Lenin perdeu atualidade. Merece ser lido e relido.

A Editora Diário Liberdade prestou um serviço ao povo da Galiza ao publicá-lo na sua língua.

O combate dos patriotas galegos pela independência contra a dominação do Estado Espanhol é muito difícil. Não obstante, os revolucionários leninistas da Galiza irmã não baixam os braços. É sua convicção inabalável que o comunismo (com passagem pelo socialismo) é a única alternativa possível à barbárie capitalista que ameaça destruir a humanidade.

Serpa, Abril de 2016 [1] O Imperialismo Fase Superior do Capitalismo , ed. Associação Cultural Diário Liberdade, 181 págs, Galiza, janeiro de 2016

[NA] Sobretudo os brasileiros Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso e o chileno Enzo Faletto.



[O original encontra-se em www.odiario.com]


-------------------------------------------------------------------------------------------------
Nota da Fundación Bautista Álvarez, editora do dixital Terra e Tempo
As valoracións e opinións contidas nos artigos das nosas colaboradoras e dos nosos colaboradores -cuxo traballo desinteresado sempre agradeceremos- son da súa persoal e intransferíbel responsabilidade. A Fundación e mais a Unión do Povo Galego maniféstanse libremente en por elas mesmas cando o consideran oportuno. Libremente, tamén, os colaboradores e colaboradoras de Terra e Tempo son, por tanto, portavoces de si proprios e de máis ninguén.