Eucaliptização
Pode-se definir a eucaliptização como o processo de plantação massiva de eucaliptos por todo quanto recanto tem a nossa terra
Titulo este artigo com este palavrão, não encontrado em nenhum dos dicionários que consultei nas diferentes línguas (galego oficial, galego-português e espanhol), porque acho que pode designar muito adequadamente o que se está a dar na Galiza.
Pode-se definir a eucaliptização como o processo de plantação massiva de eucaliptos por todo quanto recanto tem a nossa terra. Processo intimamente ligado com o desmantelamento da atividade agrária que estamos a padecer e com a prorroga por 60 anos dada a ENCE pelo governo espanhol em funções do PP, assim como com a revisão que quer fazer o governo da Junta do Plano Florestal da Galiza.
De nos fixar detidamente no que está a passar no nosso rural podemos afirmar sem medo a nos equivocar que todo está ligado e que obedece a uma planificação bem estudada e executada por cada uma das partes implicadas neste desenho.
Precisamente no artigo anterior denunciava o desmantelamento do sector leiteiro galego e cada vez estou mais convencido de que a demolição deste sector central da economia produtiva está relacionada também com a política florestal que lhe interessa a ENCE em conivência com a conselharia do meio rural.
Nesse mesmo artigo fazia uma pergunta a respeito de porque as indústrias de laticínios galegas e espanholas não defrontaram um processo de diversificação e modernização das suas linhas produtivas para competir por um mercado lácteo deficitário como o espanhol, quando as européias si o têm feito, e a resposta pode ter a ver com que provavelmente haja acordos clandestinos assinados para entregar este mercado às transnacionais agro-alimentares e tudo isto pode estar algo relacionado com as negociações do TTIP. Neste sentido não é descartável que a crise que estão a padecer praticamente todos os sub-setores produtivos pecuários (leite, vacum de carne, suinocultura ou a cunicultura) tenha a ver com a negociação desta parceria transatlântica de comércio e investimento, e tudo ligado com a política florestal da Junta da Galiza.
Se as produções de leite ou de vacum de carne não têm futuro porque são expulsas pela política agrária tanto européia, como espanhola e galega, e se temos em conta que estas produções são as que mais necessidades de terra têm, a pergunta que imediatamente nos aparece é: a que se vão a dedicar as terras que se deixem de usar na atividade agro-pecuária? Parece que a resposta mais evidente é a de destiná-las à plantação de espécies arbóreas, e é aqui onde aparece com grande claridade a explicação de porque agora a Junta quer abordar a revisão do Plano Florestal da Galiza e ligado com tudo isto está a prorroga a ENCE por 60 anos.
Começa-se por impossibilitar que a gente possa viver do seu trabalho obstruindo toda possível alternativa para depois lhe oferecer o que a mim, ao sistema, mais me interessa. Conspiranoia? Acho que não, os feitos estão a demonstrar que o circulo se está a fechar com grande sucesso por e em benefício de quem desenhou todo este processo.
Primeiro procede-se a eliminar o setor produtor pecuário da Galiza (leite e carne), logo se entrega o mercado agro-alimentar espanhol às transnacionais (TTIP) e a terra abandonada por estas produções fomenta-se que se ince de eucaliptos para benefício de ENCE, e aí temos o futuro desenhado para a nossa terra, junto com promover a concentração da povoação no eixo atlântico unido pela AP-9, tal como prognosticou nos inícios dos anos 90 o senhor Guillermo de la Dehesa.
Segundo dados oficiais, neste momento, na Galiza temos 200.000 hectares mais de eucaliptais dos inicialmente previsto no Plano Florestal do ano 1992 e eu asseguro que a dia de hoje esta quantidade já esta ultrapassada. De colhermos qualquer meio de transporte e de nos fixar na paisagem que imos vendo ao passar podemos comprovar que nos últimos messes estão a proliferar de uma maneira desmesurada novas plantações de eucaliptos em todo tipo de terras, tanto agrárias como de monte, por isso me atrevo a fazer a afirmação anterior. Profissionais do setor florestal estão a se queixar do mono-cultivo de eucalipto mesmo em detrimento das plantações de pinheiros, prognosticando que no imediato futuro vai haver escassez desta madeira e já não digamos nada das madeiras nobres e das frondosas autóctones.
Neste desenho desempenha um papel fulcral a revisão do Plano Florestal da Galiza, vigorante desde o ano 1992. Revisão que começou a final de 2014, encarregando-lhe a conselharia o trabalho ao Conselho Florestal. No seu seio criou um grupo de trabalho que se reuniu ao longo de 2015, com o fim de elaborar umas diretrizes para proceder à sua revisão.
Na composição desse grupo de trabalho salientava a excessiva presença de representantes do setor da madeira (20 dos 25 membros) e a maioria com claros interesses ligados à promoção das plantações massivas com espécies de crescimento rápido para o seu aproveitamento como pasta de papel (ENCE), biomassa e cultivos energéticos.
Com o fim de equilibrar esta descompensação na conformação do grupo de trabalho a Organização Galega de Comunidades de Montes Vizinhais, presente no Conselho Florestal, propus dar audiência aos distintos coletivos com interesses no rural galego e que não estão presentes no Conselho, mediante a consulta aos mesmos, proposta inicialmente aceite, mas na prática não se levou a cabo. Perante deste incumprimento treze organizações, sindicais, ecologistas e agrárias elaborarão um documento de valoração das propostas feitas pelo grupo de trabalho. O documento leva por título: “Um processo falseado e umas propostas à medida de ENCE”.
Desde o ponto de vista de organizações agrárias como a FRUGA, é de destacar, como aspectos negativos que se aposte pela produção de madeira com pouco valor acrescentado, para pasta de papel, biomassa e cultivos energéticos, ou a falha de propostas para recuperar a superfície agrária útil perdida e mesmo que se promova a plantação das terras com vocação agrária.
De se consolidarem estas propostas imos assistir no horizonte de 10 ou 12 anos a outra grave crise, mas neste caso não será no leite ou na carne, senão no eucalipto porque haverá um excesso de oferta e a procura estará monopolizada quase em exclusiva por ENCE, e em menor medida por FINSA, que terão a capacidade de impor os preços que mais lhes interessem no momento.
Assim como no leite não temos capacidade industrial para transformar a nossa produção e pelo tanto estamos em mãos de empresas estrangeiras, algo parecido acontece no setor do monte e em concreto no que tem a ver com a produção florestal. Galiza carece de indústrias que transformem o que produzimos e a maior parte das madeiras de qualidade que aqui produzimos emigram para fora do País para ser transformadas pela indústria do móvel em Valência. Mesmo o eucalipto que poderia ter saída para a elaboração de madeira para parquê, mas com turnos de corta a 30 ou 40 anos, resulta que na Galiza não há uma só empresa que possa defrontar esta transformação.
Está-se, pelo tanto, reproduzindo o mesmo desenho colonizador como o que estamos a padecer no setor leiteiro e com a total cumplicidade do governo da Junta da Galiza do PP.
Mesmo admitindo que o futuro do nosso rural estiver ligado a produção de eucalipto, que já é muito admitir, ao carecermos de capacidade para transformar, diversificar e comercializar as nossas produções estaremos sempre à mercê de interesses alheios.
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Nota da Fundación Bautista Álvarez, editora do dixital Terra e Tempo: As valoracións e opinións contidas nos artigos das nosas colaboradoras e dos nosos colaboradores -cuxo traballo desinteresado sempre agradeceremos- son da súa persoal e intransferíbel responsabilidade. A Fundación e mais a Unión do Povo Galego maniféstanse libremente en por elas mesmas cando o consideran oportuno. Libremente, tamén, os colaboradores e colaboradoras de Terra e Tempo son, por tanto, portavoces de si proprios e de máis ninguén.
Titulo este artigo com este palavrão, não encontrado em nenhum dos dicionários que consultei nas diferentes línguas (galego oficial, galego-português e espanhol), porque acho que pode designar muito adequadamente o que se está a dar na Galiza.
Pode-se definir a eucaliptização como o processo de plantação massiva de eucaliptos por todo quanto recanto tem a nossa terra. Processo intimamente ligado com o desmantelamento da atividade agrária que estamos a padecer e com a prorroga por 60 anos dada a ENCE pelo governo espanhol em funções do PP, assim como com a revisão que quer fazer o governo da Junta do Plano Florestal da Galiza.
De nos fixar detidamente no que está a passar no nosso rural podemos afirmar sem medo a nos equivocar que todo está ligado e que obedece a uma planificação bem estudada e executada por cada uma das partes implicadas neste desenho.
Precisamente no artigo anterior denunciava o desmantelamento do sector leiteiro galego e cada vez estou mais convencido de que a demolição deste sector central da economia produtiva está relacionada também com a política florestal que lhe interessa a ENCE em conivência com a conselharia do meio rural.
Nesse mesmo artigo fazia uma pergunta a respeito de porque as indústrias de laticínios galegas e espanholas não defrontaram um processo de diversificação e modernização das suas linhas produtivas para competir por um mercado lácteo deficitário como o espanhol, quando as européias si o têm feito, e a resposta pode ter a ver com que provavelmente haja acordos clandestinos assinados para entregar este mercado às transnacionais agro-alimentares e tudo isto pode estar algo relacionado com as negociações do TTIP. Neste sentido não é descartável que a crise que estão a padecer praticamente todos os sub-setores produtivos pecuários (leite, vacum de carne, suinocultura ou a cunicultura) tenha a ver com a negociação desta parceria transatlântica de comércio e investimento, e tudo ligado com a política florestal da Junta da Galiza.
Se as produções de leite ou de vacum de carne não têm futuro porque são expulsas pela política agrária tanto européia, como espanhola e galega, e se temos em conta que estas produções são as que mais necessidades de terra têm, a pergunta que imediatamente nos aparece é: a que se vão a dedicar as terras que se deixem de usar na atividade agro-pecuária? Parece que a resposta mais evidente é a de destiná-las à plantação de espécies arbóreas, e é aqui onde aparece com grande claridade a explicação de porque agora a Junta quer abordar a revisão do Plano Florestal da Galiza e ligado com tudo isto está a prorroga a ENCE por 60 anos.
Começa-se por impossibilitar que a gente possa viver do seu trabalho obstruindo toda possível alternativa para depois lhe oferecer o que a mim, ao sistema, mais me interessa. Conspiranoia? Acho que não, os feitos estão a demonstrar que o circulo se está a fechar com grande sucesso por e em benefício de quem desenhou todo este processo.
Primeiro procede-se a eliminar o setor produtor pecuário da Galiza (leite e carne), logo se entrega o mercado agro-alimentar espanhol às transnacionais (TTIP) e a terra abandonada por estas produções fomenta-se que se ince de eucaliptos para benefício de ENCE, e aí temos o futuro desenhado para a nossa terra, junto com promover a concentração da povoação no eixo atlântico unido pela AP-9, tal como prognosticou nos inícios dos anos 90 o senhor Guillermo de la Dehesa.
Segundo dados oficiais, neste momento, na Galiza temos 200.000 hectares mais de eucaliptais dos inicialmente previsto no Plano Florestal do ano 1992 e eu asseguro que a dia de hoje esta quantidade já esta ultrapassada. De colhermos qualquer meio de transporte e de nos fixar na paisagem que imos vendo ao passar podemos comprovar que nos últimos messes estão a proliferar de uma maneira desmesurada novas plantações de eucaliptos em todo tipo de terras, tanto agrárias como de monte, por isso me atrevo a fazer a afirmação anterior. Profissionais do setor florestal estão a se queixar do mono-cultivo de eucalipto mesmo em detrimento das plantações de pinheiros, prognosticando que no imediato futuro vai haver escassez desta madeira e já não digamos nada das madeiras nobres e das frondosas autóctones.
Neste desenho desempenha um papel fulcral a revisão do Plano Florestal da Galiza, vigorante desde o ano 1992. Revisão que começou a final de 2014, encarregando-lhe a conselharia o trabalho ao Conselho Florestal. No seu seio criou um grupo de trabalho que se reuniu ao longo de 2015, com o fim de elaborar umas diretrizes para proceder à sua revisão.
Na composição desse grupo de trabalho salientava a excessiva presença de representantes do setor da madeira (20 dos 25 membros) e a maioria com claros interesses ligados à promoção das plantações massivas com espécies de crescimento rápido para o seu aproveitamento como pasta de papel (ENCE), biomassa e cultivos energéticos.
Com o fim de equilibrar esta descompensação na conformação do grupo de trabalho a Organização Galega de Comunidades de Montes Vizinhais, presente no Conselho Florestal, propus dar audiência aos distintos coletivos com interesses no rural galego e que não estão presentes no Conselho, mediante a consulta aos mesmos, proposta inicialmente aceite, mas na prática não se levou a cabo. Perante deste incumprimento treze organizações, sindicais, ecologistas e agrárias elaborarão um documento de valoração das propostas feitas pelo grupo de trabalho. O documento leva por título: “Um processo falseado e umas propostas à medida de ENCE”.
Desde o ponto de vista de organizações agrárias como a FRUGA, é de destacar, como aspectos negativos que se aposte pela produção de madeira com pouco valor acrescentado, para pasta de papel, biomassa e cultivos energéticos, ou a falha de propostas para recuperar a superfície agrária útil perdida e mesmo que se promova a plantação das terras com vocação agrária.
De se consolidarem estas propostas imos assistir no horizonte de 10 ou 12 anos a outra grave crise, mas neste caso não será no leite ou na carne, senão no eucalipto porque haverá um excesso de oferta e a procura estará monopolizada quase em exclusiva por ENCE, e em menor medida por FINSA, que terão a capacidade de impor os preços que mais lhes interessem no momento.
Assim como no leite não temos capacidade industrial para transformar a nossa produção e pelo tanto estamos em mãos de empresas estrangeiras, algo parecido acontece no setor do monte e em concreto no que tem a ver com a produção florestal. Galiza carece de indústrias que transformem o que produzimos e a maior parte das madeiras de qualidade que aqui produzimos emigram para fora do País para ser transformadas pela indústria do móvel em Valência. Mesmo o eucalipto que poderia ter saída para a elaboração de madeira para parquê, mas com turnos de corta a 30 ou 40 anos, resulta que na Galiza não há uma só empresa que possa defrontar esta transformação.
Está-se, pelo tanto, reproduzindo o mesmo desenho colonizador como o que estamos a padecer no setor leiteiro e com a total cumplicidade do governo da Junta da Galiza do PP.
Mesmo admitindo que o futuro do nosso rural estiver ligado a produção de eucalipto, que já é muito admitir, ao carecermos de capacidade para transformar, diversificar e comercializar as nossas produções estaremos sempre à mercê de interesses alheios.
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Nota da Fundación Bautista Álvarez, editora do dixital Terra e Tempo: As valoracións e opinións contidas nos artigos das nosas colaboradoras e dos nosos colaboradores -cuxo traballo desinteresado sempre agradeceremos- son da súa persoal e intransferíbel responsabilidade. A Fundación e mais a Unión do Povo Galego maniféstanse libremente en por elas mesmas cando o consideran oportuno. Libremente, tamén, os colaboradores e colaboradoras de Terra e Tempo son, por tanto, portavoces de si proprios e de máis ninguén.