O Museu Provincial de Ponte Vedra

O Museu Provincial de Ponte Vedra

Hai umas semanas a Deputação de Ponte Vedra mudou não só a sua equipa de governo, mas a cor desta. Um dos muitos assuntos dependentes desta instituição, anticuada e corrupta como poucas (e na nossa pátria é dizer muito) e a nobre instituição do Museu de Ponte Vedra.

Desde a sua fundação em 1927, como um padroado, vem desempenhando um labor intelectual significativo, tanto na acumulação de bens culturais de todo tipo (escultura, pintura, gravados, fotografia, numismática) como na investigação e publicação.

Durante os anos finais do mandato Louzán o Museu –o conjunto de elementos deste organismo- passou a ser um elemento mais do organigrama da Deputação e, como tal, uma instituição manipulável desde a cadeira do presidente da instituição, sempre a través dum representante, a/o conselheira/o de cultura.

Contam as más línguas que a alguns membros da equipa da anterior deputada “os aborreciam os museus”. Também alguns dos seus “vozeiros” davam ao persoal da instituição a denominação de “múmias”. Eram mais do seu gosto esses pacotes de visita em que os turistas degustam mexilhões com alvarinho mentres vem algum pécio ou algum peixe... segundo de onde venha o vento.

A construção do sexto edificio, a re-formulação do edifício Sarmiento por duas ocasiões em pouco tempo para despilfarrar dinheiro que não havia, a maior ingresso em caixa de sabe deus quem, são dous dos actos estrela da última legislatura em que o mangoneio chegou ao paroxismo.

Aínda está na nossa memória a famosa e controvertida apertura dum restaurante nos baixos do Edifício “Sarmiento” dos seis da instituição, ainda em activo e com enorme esplanada a cuberto da chuva entre os edifícios do Museu, por parte dum conhecido restaurador, do PP Vieira. E ainda também a famosa fotografia do miliário-repousa-trastos-de-fregar que acabou por arrombar o pedregulho romano esse com letras a uma sala não visitável do espazo rodeado polo comedor a cozinha (ininterrumpida) e a barra do local. Confesso que, indigno como som, baixo invitação, fum jantar a esse local de cuja legalidade tenho sérias dúvidas.

Do que também tenho dúvidas, porque não está publicado, é do que o BNG, por mão do seu deputado provincial Xosé Leal, encarregado da área de cultura, vaia fazer com esta nobre instituição (Entenda-se que o termo nobre não pretende em absoluto salientar a pureza de sangue nem a superioridade duma caste concreta). Não tenho certeça de existir plano nenhum para afrontar o reto de levar o Museu ao século XXI em que estamos. Na minha opinião, esta não é a maneira desejável de fazer política. Os partidos, ainda que não prevejam governar num tempo próximo, têm que ter planos para essa contingência. Muito trabalho? Pois é. Mas a política não é só exercer a crítica (bastante molificada até hoje para a Deputação de Ponte Vedra), também antecipar-se, propor e pôr em marcha quando “toca”.

A primeira medida que saiu em imprensa –a retrocessão do Museu a Padroado independente- parecia óbvia, por muito comentada, mesmo antes de perderem o governo provincial os do PP. Não o Louzán, que já assegurara o retiro na Federação espanhola de Fútebol na Galiza, onde estará como peixe na água ou, melhor ainda, como vaca no lameiro, por aquelo da erva sintética.

,A questão é que, com estar bem levar o rio ao seu curso, não é suficiente. Voltar o Museu para o sistema que tivera é básico. O entramado de instituições interdependentes do Museu (arquivo, biblioteca, museu) deve estar ao aveiro das mudanças políticas e dos usos partidistas. É uma Instituição, com maiúsculas, e deve seguir a sê-lo.

O que não pode ser é que se volte a um modelo ultrapassado e antiquado de instituição museística, no que ainda esmorece por torpeza dos seus directivos ou por incuria dos seus financiadores.

Na minha opinião, redigir um estatuto dos organismos integrados no Museu de Ponte Vedra deveria ser uma prioridade, estabelecer quais os critérios de dotação e qual o reparto de tarefas... os critérios de prioridade para uns objectivos definidos anualmente e um longo etc.

A direcção não deveria ser vitalícia e unipersoal. Os cargos vitalícios acabam por provocar nos seus detentores a sensação de nada ser necessário se não o pensa el/a. As instituições complexas requerem de equipas activas, fromadas e inquietas que procurem sempre a “excelência”. O assunto de definir a estrutura interna do museu facilitaria estabelecer as funções e niveis de cada quem.

Outra eiva significativa do conjunto de instituições do Museu, a dia de hoje, é o acesso ao conhecimento dos fundos depositados nele. Um catálogo digital público com imagens e descrição das peças, documentos, imagens, etc... é uma necessidade para entrar no século XXI de vez.

Aliás, a pesar de figurar na página web entre os objectivos do Museu a investigação, a instituição carece dum guia geral (em papel) que se poida consultar, também não a tem em sistema electrónico. A informação da página web é mais bem reduzida e superficial. No percurso duma visita real (já nem imagino uma virtual, que seria grande novidade) o visitante interessado carece de qualquer informação fora das salas e dos membros da equipa didáctica. Nem livros monográficos sobre qualquer dos diversos assuntos dos que tem repressentação (cultura Castreja, o medievo, produções de Sargadelos, obra gráfica e pictórica de Castelao, numismática, olaria, naval ...) nem sequer trípticos para os visitantes menos “interessados”. Desconheço por quê o departamento de publicações, que seica existe, não publica.

Por não prolongar-me de mais -este assunto dá para relatórios longos, longos...- o financiamento. Até a actualidade a Deputação pagava, também Caixa “Avaricia-Nova” e Pescanova estavam, segundo tenho entendido, entre os financiadores da instituição. É necessário que as diversas instituições que constituem o Museu ingressem dinheiro... e não é a base de cobrar entradas (ainda que possível) nem alugando o local, todo ou por partes, para festas a porta pechada de empresárias/os emprendedoras/es (que se calhar podia contemplar-se, para outros fins, de maneira ordenada no organigrama da instituição e sem fritangas). Creo que um modo digno e versátil de financiamento é o que todo museu do mundo, actualmente e desde antigo, practicam: A venda de lembranças aos visitantes: livros, postais, pousa-vasos, marcadores de página, láminas, puzzles, reproduções de joiaria (petroglífica ou castreja no nosso caso) ou de moedas, olaria, chaveiros, panos, camisolas, jogos, mugs, alfinetes, caixas de lata e um longo etc. Tal vez não seja a panacea mas os mais prestigiosos museus do mundo tenhem esta actividade como meio de financiamento.

Por último acho também que as/os trabalhadores mereceriam muita mais atenção e respeito do que antes tiveram, tanto quando havia Padroado como durante a “fusão”. A formação e capacidade para o desenvolvimento das suas funções deve supor-se-lhes e de não a terem reconsiderar a sua função. As Instituições públicas deveriam dar exemplo em transparência, horários, respeito aos direitos dos trabalhadores, categorias e soldos. E desculpem que toque um tema pecuniário, do que tão mal está falar nesta terra nossa.

A ver se com o concurso de todos (governantes, trabalhadores, investigadores e visitantes) podemos fazer desta instituição, com mais de 80 anos de vida, um referente essencial do nosso país e mesmo a nível internacional, porque tem esse potencial, e, de passo, a convertemos num motor, se quer pequeno, do turismo cultural que tão pouco gosta aos nossos políticos – só por contrariar -.


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Nota da Fundación Bautista Álvarez, editora do dixital Terra e Tempo
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