Línguas Celtas: as vogais do Escocês

Línguas Celtas: as vogais do Escocês

O não ter em conta o substrato celta do galego-português não só da lugar a erros ao interpretar a orige destas línguas, também da lugar a erros na reconstrução das línguas celtas.


Um exemplo do dito é o que passa coas vogais do gaélico da Escócia. O gaélico tem segundo os livros mais de vinte vogais, cando quitamos os ditongos a cousa queda em dezanove. Estas dezanove incluem uma vogal átona que não tem representação e duas variantes de o e u que se representam como ditongos. As catorze vogais que quedam dividem-se em sete curtas e sete longas que se diferenciam por levar um acento gráfico.

—Sete vogais? Logo os escoceses diferenciam os ‘e’ e ‘o’ abertos dos fechados?

—Diferenciam si senhor.

Exemplos tirados de akerbeltz:

E curto: fear [fɛr] home/de [dʲe] de.
E longo: sèimh [ʃɛːv] quedo, calmo/an-dé [əNʲ’dʲeː] onte.
O curto: Loch [Lɔx] lago (ou lagho)/bog [bog] brando, mole.
O longo: Tórr [tɔːR] outeiro/ [boː] vaca.

Compre sinalar que nas vogais curtas não há indicação gráfica de que a pronuncia é diferente. Os falantes deduzem a pronuncia polas consoantes que seguem.

O caso de tórr é bastante peculiar já que o galego torre, presente numa chea de topónimos, ao vir do latim turris devia-se de pronunciar com o fechada —como di a norma— mas a maioria dos galego-falantes andamos empenhados em pronunciá-lo aberto.

E tampouco vaiam a pensar que o resto das vogais do gaélico são moi diferentes da pronuncia portuguesa habitual: mesmo há vogais nasalizadas. A diferencia principal são duas vogais que não correspondem cuma letra.

A primeira pronuncia-se como uma u mas em troques de redondear os lábios hai que sorrir coma um tolo.

W longo: caora [kɯːrə] ovelha é interessante o parecido com churra. W curto: uisge [ɯʃgʲə] auga, de onde sae a palavra whisky.

A segunda pronuncia-se como uma o mas sorrindo (neste caso não é coma um tolo)

ɤ longo: adhbhar [ɤːvər] razão.
ɤ curto: coille [kɤLʲə] bosque, fraga.

Isto dá lugar a um cento de complicações na pronuncia já que, por exemplo o irlandês rua pronuncia-se case como rua no galego mentres o escocês ruadh pronuncia-se como Rói mas com ‘o’ longo. As duas palavras significam rojo, roibo ou vermelho.

O irlandês actual não diferencia entre abertas e fechadas na escrita mas o irlandês varia moito na pronuncia. Por exemplo á pronuncia-se como um ‘o’ longo aberto em vários dialectos, igual que o inglês americano aw. Este é o motivo de que o nome irlandês mais característico Seán (Xoam) soe como /Xoom/ (o aberto) e não como /Xaam/ e que se escreva Shawn em inglês americano.

O curioso não é isto, o curioso é que para a maioria das gramáticas isto é uma inovação do gaélico de Escócia já que o Gaélico Antigo não diferencia na escrita entre abertas e fechadas. Esto lembra-me a algum idioma que conhezo, só que agora mesmo não sei cal. Resumindo, de crermos a teoria tradicional o galego-português e mais o gaélico da Escócia inventaram de jeito independente o sistema das sete vogais que não existia no latim nem no Gaélico Antigo. Deulles por aí.

Parece mais singelo supor que há um substrato linguistico comum a ambos territórios. Que, recordemos, compartiram uma mesma cultura arqueológica e uma rede comercial, como mínimo, entre o megalitismo e o Bronze Final.