De princípios, meios e fins
Num artigo publicado neste meio, o professor Robert Neal Baxter compartiu connosco recentemente umhas interessantes «Reflexións sobre o discurso da utilidade do galego como "superlingua" internacional». Este texto, que contém importantes ideias sobre as estratégias a seguir para a dignificaçom da língua galega, parece ter surgido de uma dupla intençom que fijo com que o tema tratado ficasse pouco claro, e em consequência deu lugar a evidentes maus entendidos.
Enquanto o título di comentar umha cousa, a utilidade do galego como 'superlingua' internacional (fazendo referência a uma actividade da AGAL), o primieiro parágrafo situa-nos na resposta a argumentos contra um texto anterior. Como consequência, o artigo antes parece uma crítica furibunda a todo o reitegracionismo que nom seja o do próprio autor, o que me fijo sentir-me atingido e redigir esta resposta que quer ser construtiva.
O artigo do professor Baxter começa logo com uma interessante reflexom sobre a 'utilidade' da língua galega. Alguém, polos vistos, lhe perguntou se o galego era para ele umha ferramenta ou um fim político, ao que respondeu com agudeza que, evidentemente é as duas cousas: é a língua do povo galego, portanto é um meio para se comunicar, mas também um símbolo político desse povo, portanto é um objectivo normalizá-lo. Nada que objectar, é claro. O curioso é que a seguir di ter sido perguntado a respeito de outra utilidade, e eu reconheço nom entender de todo de que está a falar. Di referir-se a umha utilidade para além de ser língua do povo galego, e que isso é qualquer cousa de mercadotécnia neoliberal.
Repare-se que, a seguir, o professor Baxter di reconhecer a unidade lingüística das variantes do galego-português. Reconhece a unidade da língua e reconhece que é língua internacional. Portanto, nom parece lógico duvidar da utilidade da nossa língua 'para alén de ser a lingua do pobo galego', porque evidentemente é língua doutros povos, e portanto igualmente útil a esses povos, e para que esses povos se comuniquem entre si, incluíd@s nós. Isso, e nom outra cousa, é que o presidente da AGAL dixo ser uma 'super-língua', como se pode ler no artigo original.
O professor Baxter, porém, pom em boca de Valentim R. Fagim, e portanto da AGAL, cousas que nunca dixo, como que o facto de ser unha língua internacional à par do inglês e o espanhol a torne mais 'ferramenta de comunicaçom'. De facto, o presidente da AGAL pujo bastante empenho em marcar que, como bem indica o professor Baxter, se o galego nom fosse umha língua internacional seria igualmente digna.
Eu concordo com os dous nesse ponto, mas expressaria-o doutra maneira. Creio que é o povo galego que é digno, e a nossa língua é símbolo e prova dessa dignidade. E por isso nom devemos permitir que se esconda a sua verdadeira dimensom e potencialidade. Seria falharmos ao povo, ou entom, lembrando Castelao, nom ter fé nele.
Precisamente com essa intençom, a AGAL editou há pouco tempo o mapa 'A Nossa Língua no Mundo', a que o professor Baxter, na mesma óptica tristemente distorcida, dirige outras tantas críticas.
Antes de mais, é justo dizer que em Portugal se criárom em tempos mapas similares com ideologia imperialista. Sem dúvida foi isso que o professor Baxter tinha na cabeça quando o viu, mas precisamente o nosso mapa tenta superar o colonialismo, e portanto podia ter feito o mesmo razoamento para falar bem dele.
Por exemplo, o nosso mapa refere outros lugares onde se fala a nossa língua, sem que tenha o estatuto de oficialidade, nem terem sido colónias. Aliás, aparece a Galiza, que nunca foi colónia portuguesa, e desaparecem Damão e e Diu que, apesar de terem sido colónias, nom falam português.
É verdade que, ao destacarmos os países (ou cantons, como Macau) em que o português é língua oficial, inevitavelmente estamos a marcar ex-colónias de Portugal. Mas também é verdade que esses mesmos países, depois da sua independência, decidírom ter como língua oficial o galego, fazendo uso do seu inalienável direito de autodeterminaçom. Ver só ex-colónias nom nos parece fazer justiça à luita desses países pola conquista da sua independência.
Também nom marcamos no mapa outras línguas que se falam nos mesmos territórios. O professor Baxter, com grande erudiçom, indica-nos essa carência, que concedemos que dê uma impressom pouco exacta da situaçom lingüística nesses países. Mas deve-se entender que representar dalgumha maneira isso, abria as portas a indicar também que o castelhano está presente, e com vigor, na nossa terra. Claro que nom pretendemos igualar o caso do castelhano na Galiza, língua foránea imposta, coas línguas africanas, mas realmente pensamos que com o mesmo critério seria pouco ético deixá-lo fora. E isso faria, entendemos, que o nosso mapa se visse desvirtuado, nom servindo como devia ao seu objectivo principal: mostrar a potencialidade da língua do povo galego.
Nom queria acabar este artigo sem fazer referência à questom do nome da nossa língua. Neste tema, também, o professor Baxter fai indicaçons preciosas, ainda que incompletas. Nom podo mais que concordar com ele, por exemplo, na distorçom que supom na Galiza chamar a nossa língua exclusivamente português. Mas eu creio que fugir de chamar a nossa língua de galego é tam negativo como fugir de chamar-lhe polo nome por que é conhecida internacionalmente. Porque, apesar que o professor Baxter reitere que 'a existencia do galego como lingua internacional é un feito innegábel', a verdade é que está bastante negado de facto na sociedade galega.
E isto leva-me ao que talvez seja a grande questom: a necessidade de vibilizar a dimensom internacional do galego. O nosso mapa pode ser submetido a críticas, mas é umha alternativa ao mapa mental das quatro províncias. Também chamar 'português' ou 'super-língua' a isto que falamos na Galiza. Quero pensar que nom é isso que molesta, porque quero pensar que mostrar a língua nom é problema.
O artigo do professor Baxter começa dizendo que a língua é um meio e um objectivo indistintamente. Mais adiante, porém, di que é umha 'trampa' confundirmos os meios com o fim. É evidente que é um homem de princípios. Por isso espero que nom tenha problema em retirar a acusaçom de imitaçom de modelos foráneos que fijo pesar sobre o reintegracionismo. Afinal, já que concordamos em proclamar-nos reitegracionistas, nom podemos andar tam longe um do outro. Nom é?