Balneário de Briteiros


Hai umas datas teve a ideia de conhecer por mim mesmo as instalações dos balneários castrexos que se esparegem pola nossa geografia. Bem, nossa e do Minho, na República Portuguesa. Concretamente escolhim visitar o balneário de Briteiros. Esse que está na citánia ou castro da mesma freguesia.

Trás percorrer as ruas do povoamento e ver, de novo após uma cheia de anos de não visitá-las, aquelas ruínas em permanente luita com a natureza que intenta absorvê-las, baixei a encosta que dá acceso á construção que nos motiva este artigo.

Vista desde acima o conjunto trouxe-me á memória os dolmens de corredor vistos noutros lugares da nossa geografia e na Bretanha. A disposição das lousas que cobrem as salas e a propria sucessão de essas estâncias eram um potente evocador.

Depois, chegados á fronte da pedra formosa, puidem observar o exíguo orifício em forma de meia circunferência. Como, polo geral, as publicações e fotografias tendem a se esquecerem de pôr uma escala para medi-lo, calculo que poida ter, por aí, um diametro de 35 cms... e som generoso.


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Imaginei-me a mim mesmo intentando entrar por aquele orifício na sala contígua para receber o agradável e pracenteiro calor duma sauna. Eu –de certo quem ler não tem que saber- som mais bem pequeno e baixo mas não conseguia sentir-me confortado com a ideia de introduzir-me por aquele buraco. Para começar, um há de se deitar no chão de pedra. Tal vez noutro tempo estivera puída mas nem por isso. Depois havia de introduzir a cabeça e provar a deslocar os ombros para rebasar o límite da formosa pedra furada. Nesse instante acreditei no cartaz que informava, á beira do monumento, que os utentes castrejos entravam de um em um. Como para pretender fazê-lo doutro modo! E ainda assim com muita calma, habilidade e flexibilidade.

Suponho que os castrejos esses não reclamariam com muita frequência a saudável acção do vapor no dito monumento porque a espera tinha de ser por meses. E mesmo aguardando muito tempo, a maioria dos habitantes de Briteiros ficaria impossibilitada pola ditadura da anatomia. Sempre houve persoas grandes e gordas.

Ademais, suponho eu, entrava-se espido ou, quando menos, com pouca roupa. Não sei se algum dos que me lem têm roçado uma parte da sua pele com rochas graníticas. O resultado é certo número de erosões e, por vezes, feridas. Não resultaria agradável uma experiência balneária desse tipo, nomeadamente para os de maiores proporções. Eu, desde logo, não faria o menor esforço por experimentá-la se não houvesse uma força superior a me empurrar... moralmente.

Não pretendo com estas impressões persoais e com estas reflexões desinformadas regeitar qualquer hipótese profissional, por descontado. Estou certo de que os arqueólogos e historiadores que defendem a ideia de serem as construções das pedras formosas balnearios ou saunas estám assistidos dos seus motivos e de razões razoáveis para afirmar tal cousa. Mas a minha curta inteligência faz que tal hipótese me ressulte de todo ponto absurda e incrível. E tal vez a aplicação dos princípios da epistemologia também nos levasse á mesma conclussão mas... quem som eu para duvidar do critério dos especialistas? Não?


,Um aponte e umas reflexões:

O arquitecto Carlos Sanchez-Montaña, no seu blogue http://pedrasformosas.blogspot.com.es/2007/01/arquitectura.html (em espanhol, claro) dá por sentado que essas saunas ou balneários eram locais para taurobolias -ou baptizados com sangue dum touro degolado numa cámara superior ou, neste caso, sobre a cámara mais oculta dos ditos balneários-. E eu acrescento: próprias da religião mitraica. Desonheço o impacto do mitraísmo na Gallaecia romana, que deveu ser significativo, mas esta tese tem também uma dificuldade: A datação das pedras formosas adoita ser muito anterior á chegada aos nossos pagos dos romanos –esses filántropos que traiam cheias as suas cornucopiae de dons e progressos para os atrasadinhos castrejos que pouco ou nada sabiam-.

Não traio o testemunho deste sr. como prova de nada ou como voz autorizada. Apenas é uma opinião duma persoa letrada e, suponho por ser arquitecto, docta no que a elementos construtivos se refer. O seu olho não parez o dum extravagante que ve celtas em todo o que se move e, nomeadamente, no que está quieto. De facto nada hai de celtismo na sua proposta que faz depender uns monumentos tão galaicos duma influência mediterrânea veiculada por vectores culturais romanos. Este testemunho é, a penas, a amostra de que persoas com certa cultura não sentem a hipótese oficial como plausível e procuram outras.

Na interpretação de Carlos Sánchez-Montaña, com a que coincido em boa medida, “el tablero de piedra que recibe el nombre de Pedra Formosa… es la representación simbólica de la madre, de la vagina, de la matriz sagrada... el elemento principal … del rito de renacimiento asociado a Cibeles y a la herencia de la cultura megalítica de las mámoas. A través de esta “puerta” simbólica y en algunos casos con gran dificultad física, el devoto renace a una nueva vida, (en el caso de los túmulos de dolmen con corredor renacía a la “otra vida” después de la muerte real), en el caso de las Pedras Formosas, a una nueva vida robustecida tras el taurobolio ritual. Es importante recordar que el ritual de la diosa Cailleach celta se centraba en la inmersión del guerrero en el caldero de la diosa, para así renacer fortalecido”. Extraído de http://pedrasformosas.blogspot.com.es/2007/01/conclusion.html

Bom, eu não concordo com a identificação da Magna Mater lícia, chamada Cibeles, com a deusa suprema céltica, chamada Brigit numa das suas advocações, por mais que os seus roles poidam ser identificáveis. O facto de serem duas “versões” dum concepto divino similar não abonda para as identificar, ainda que os romanos tinham esse costume que tem provocado numerosas confusões ás sucessivas gerações de investigadores e teorizadores sobre as religiões antigas. Os desenvolvimentos cultuais em ambos os espaços do mundo foram, sem dúvida, diferentes mas uma identidade na importância da figura feminina sagrada serve para os vincular e mesmo para supor que séculos depois de feitas as pedras formosas puderam ser “identificadas” com elementos do culto a Cibeles, traído por tropas ao serviço de Roma destacadas na Gallaecia.

A interpretação dos orificios das pedras formosas com simbólicas vaginas e da trasposição desses orifícios em actos cultuais com o renascimento é algo que estabelece um vínculo com muitas religiões em todo o mundo, nomeadamente naquelas politeístas em que a Natureza tem um significado importante: Sair de novo ao mundo, transmutado. Também compre lembrar que por todo o mundo houve (e ainda há) sociedades em que os adolescentes ou pré-adolescentes são submetidos a rituais de passo (por um angosto passo) para serem submetidos a diversas provas e saírem delas convertidos em membros de pleno direito na sociedade. Ainda mais uma possibilidade: o acceso a esses lugares especiais podia estar relacionado (como, por exemplo, nos ritos eleusinos ou nos de Trofónio, na Grécia clássica) com a comunicação com os deuses a través de certos rituais, geralmente associados ao consumo de drogas, com os sonhos e outros, normalmente em lugares fechados e baixo terra.

As imagens gravadas nas ditas “pedras formosas” são, em geral, muito diferentes e apenas algumas podem ser vistas hoje como representações (esquemáticas) da figura feminina cuja vagina é o orifício de passo. Na ilustração reproduzida acima pode perceber-se com certa claridade que o relevo de “corda” das pedras signadas como C e D têm uma vaga proximidade com um corpo humano esquematizado, mais claro em D. Mesmo a figura que reproduz a pedra formosa de Briteiros (F) poderia se identificar com um corpo feminino muito estilizado e de amplos volumes.

Resulta também significativo que, de modo directo, o sr. Sanchez-Montaña faga uma correlação entre os dolmens com os complexos das “pedras formosas” que também eu achei serem surpreendentemente similares em distribuição e forma. Quem quixer pode ver numa das fotografias, acima, essa similitude.


Os direitos das fotografias são do autor do artigo. O gravado foi tirado da rede.


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Nota da Fundación Bautista Álvarez, editora do dixital Terra e Tempo
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