Brexit, independência e jihadistas
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A actualidade
1.Feitos:
Outra volta o “ódio” ataca Europa, concretamente o coração da City. A mão executora desse golpe forom três mussulmanos: Khuram Xazad, britânico nascido no Paquistão, de 27 años; Raxid Reduane, de 30, de origem marroquina ou líbia (?) e Iussef Zaghba, filho de um marroquino e de uma italiana, nascido em Fes (Marrocos) em 1995.
Estes “lutadores por Allah” decidiram atropelar, com a furgoneta que conduziam, os caminhantes e, depois, apunhalar gente, ao acaso, segundo a acharem ao seu passo, todo na volta da Ponte de Londres. Este método de actuar deu lugar a cenas de pânico e numerosos feridos. O resultado, ainda por definir completamente, alcança no momento de escrever isto os oito mortos e decenas de feridos, a maioria por arma branca.
2.Repercusão:
A imprensa, amarelizada profundamente, dá covertura morbosa a toda ralé de relatos. Uns heroicos, de quem defendeu clientes a desfrutarem da sua noite de diversão duma agressão injustificável; outros bizarros, de quem salvou a sua pinta cheia durante o desalojo dum local; outros ainda angustiosos, sobre persoas das que se perdeu a pista durante dias... Tudo convertido num espetáculo lamentável em que o morbo da nossa sociedade decadente se regodeia. Tudo com a profundidade de análise habitual neste tipo de casos: Ninguma.
O medo, a apreensão do diferente convertida em happening macabro e marcado pola banalidade. Sem perguntas nem repostas. Para que tanta polícia, mesmo militares, a tomarem as ruas se não podem proteger os viandantes? Para que a situação de excepção? Para que tanta metralhadora nos aeroportos se os jihadistas estám na casa? Para que tanto controle de fronteiras se os traficantes de armas passam as fronteiras sem problema? Para que os serviços secretos? Seica estes libram-nos de muitos atentados que nós, pobres cidadãos, nem suspeitamos... Mas acho a sua falibilidade excessiva.
A primeira ministra británica já se apurou a afirmar que os direitos humanos podem ser suspendidos em caso de necessidade para lutar contra o terrorismo (cito de memória a Voz de mércores 7 de junho). Quem decide a necessidade?
Na França levam um ano longo em estado de excepção. Eis a principal vítima dos atentados jihadistas: A liberdade. A quem convém este medo permanente? Essa pregunta está sempre a me martelar a cabeça. Mas tal vez não é este o momento de a responder.
Vivemos, desde o 11 S, num estado de controle sobredimensionado para o nivel real de ameaça. Por vezes chega-se ao ridículo de “fazer para que se veja”. É o caso dos controis de bagagens nas estações dos caminhos de ferro (adif), abertas com horário de escritório. A partir das 21:00 horas o aceso é livre! Acaba o perigo ou a contrata de seguratas ou, tal vez, ambas?
3.Antecedentes
Mas este não é o primeiro atentado que se efectua no Reino Unido da Grande Bretanha. Há poucos dias, no 23 de maio, durante un concerto de Ariana Grande, Salman Abedi, británico de 22 anos, filho de refugiados líbios, fez detonar uma carga explossiva de fabricação caseira, deixando feridas 59 persoas e sem vida 22 persoas mais, entre rapazada e adultos.
Em ambos os casos os assassinos eram soldados do Califato que vingavam, segundo os comunicados do Estado Islámico, as agresões contra as terras dos mussulmanos. Como acontece com frequência, dum tempo para hoje, os agressores morrem “suicidados” ou abatidos polos agentes da ordem. Isso evita muitas questões e muita reflexão, creio eu. Estavam tolos e o melhor é morrerem. Tras desta deplorável prática terrorista não há responsabilidades de ninguém, só dos jihadistas concretos, nem conivências, nem erros, nem negligências, nem … apenas um sucessão de desgraçados feitos que levam á morte a gente inocente. Recemos por Londres. Pensar está sobrevalorado. Deus (ou Allah, dependendo de quem dixer) proverá. Tudo está nas suas mãos.
Também não é a primeira vez que acontece algo similar na França. Deixo à parte o ataque, em Notre Dame de Paris, com martelo (sim, um martelo!) dum indivíduo a um policia ao grito de isto é por Síria! pois não parece um ataque premeditado de terrorista senão mais bem o dum psicópata improvisador e nhapas. O gajo declarou-se, também, soldado do Califato, sem confirmação da “instituição”.
Referia-me aos seis ataques simultáneos perpetrados na capital francesa uma noite de novembro de 2015 com o resultado estremecedor de 130 mortos e 352 feridos. A imprensa afirmou, no momento, que o atentado era esperado, mesmo se vaticinara desde as instancias do estado! Três equipas, segundo se disse, de jihadistas com kalasnikoves. Isto já parece algo mais premeditado, coordenado e “profissional”. Neste caso ao habitual Allah akbar acrescentaram referências a Síria e Iraque.
Na sala Bataklan, um dos cenários do carnifício, actuavam Eagles of Death, que ironia trágica!
4. Contexto europeu
Hoje, o Reino Unido da Grande Bretanha está numa das peores encrucilhadas, tal vez, se exceptuamos a IIª Guerra Mundial e as consequências, da sua história recente. Dous problemas graves cercam-a. Um é o BREXIT; outro é a potencial independência de Escócia cuja primeira ministra, Nicola Sturgeon, vaticinou, em dias recentes, para 2025. Que diferença com os praços abertos propostos por Pondal no Hino! (os tempos son chegados / dos bardos das edades / que as nossas vaguedades / cumprido fim terán) E nunca enunciados por ningum responsável político dos nacionalismos.
Também coincide, casualidade ou oportunidade?, a campanha eleitoral para as eleições de 8 de junho, com que Theresa May pretende reforçar a sua posição no parlamento británico. Á direita aproveitam-lhes os actos violentos para inclinar a opinião pública para um fortalecimento do controle de imigrantes, pobres, marginados, esquerdistas e luitadores polos direitos, quaisquer que estes forem, excepto á propriedade privada. E se alguém duvida não há mais que ler os twits do Donald sobre o útil que seria uma política de mão dura com os diferentes. E se alguém tiver memória, pode lembrar os tempos em que Ansar estreava carro blindado.
Que se passava na França há ano e meio? Era o tempo em que François Hollande presidia la Repulique e a sua popularidade, como habitualmente, estava baixo mínimos. O titular do ABC, jornal pouco sospeito de veleidades jihadistas mussulmanas (de guerras santas católicas romanas não me atreveria a dizer nada) publicava a um mes do atentado de Paris o que segue: Los atentados catapultan la popularidade de Hollande. E acrescentava que a popularidade subira oito pontos percentuais, até os 33%. Caramba que coincidência! Atentado e suba de popularidade! Cumpria galvanizar a nação baixo um temor comum ao diferente. A ser possível doutra religião e facilmente identificável como cabeça de turco... ou tal vez fosse melhor dizer cabeça de jihadista. A cousa quase se lhe vai das mãos. Le Pen não ganhou pola prórroga.
Já quase nem lembramos os atentados de Alemanha, em plena crise política do partido de Merkel. Alá polo verão de 2016 um home detonava uma bomba caseira num local de Ansbach provocando 15 feridos. O assaltante, um sírio que solicitava assilo, morreu. Isso si, levava dentro da mochila um móvel cum video onde se reivindicava luitador polo Estado Islámico. O terrorista fora regeitado como assilado e ia ser deportado a Bulgária em pouco tempo. Intentara suicidar-se duas vezes antes de conseguir os explossivos para “imolar-se”. Soa a desesperação mal conduzida.
Dias antes outro jihadista, refugiado afgano, atacou com arma branca um viageiro num comboio.
Outros dous casos anteriores de agresão perpetrada por mussulmanos não foram considerados “terroristas”. O quid está no adjectivo “anteriores”. Em Munique um iraniano-alemão matou 9 persoas, mas estava tolo, quer dizer, tinha problemas psiquiátricos. Em Reutlinger uma discusão acabou com uma mulher, grávida, morta a machete por um refugiado sírio.
Lembremos que na altura a primeira ministra alemã, Angela Merkel, estava a ser questionada para liderar o partido conservador nas eleições de outono de 2017. Dous revesses sucessivos em eleições dos landen e a crise dos refugiados, quer dizer, a decisão, contra o opinião maioritária do CDU, de manter as fronteiras abertas para aliviar a bolsa de refugiados sírios engarrafados em Hungria, estavam cercando-a. Outra casualidade!
5.Causas?
Tal vez resulte inquietante para muitos a insistência dos terroristas (de cuja cordura não acredito ser total, ainda que sejam conscientes dos seus actos), a insistência dizia em se referirem ao Iraque e á Síria. Suponho que todos os que lerem isto serám conscientes, também, de que ambos países de Oriente Próximo foram vítimas recentes da intervenção ocidental. Os casos são diferentes, claro, mas em ambos os dous governavam os pútridos sucessores do esquecido partido Baaz que propugnava após a IIª Guerra Mundial a criação dum grande estado árabe, laico e socialista. Não é casual que as bandeiras sejam praticamente idênticas. Para além disso os dous territórios desfrutam da condenação de acumularem baixo as suas areias decrecentes depósitos de petróleo.
Sem pretender entrar em profundas análises, que outros poderam fazer melhor do que eu, creio que a intervenção ocidental, em que o R.U. e a França tiveram rol preferente, está na origem destes atentados no território pátrio dos amos. É verdade que os clientes de bares, os passeantes de lugares de lazer e outras vítimas não são os poderosos que decretam o que há de fazer-se em “longínquos desertos e montanhas remotas” mas são (somos) os cidadões que desfrutamos, mais ou menos, das vantagens dessa política depredadora e criminal que poucas vezes se denúncia e menos ainda se faz pagar nos processos eleitorais.
É pois uma vingança? Eu diria que sim. Sei que muitos diram que estes jihadistas, ao morarem entre nós, são, dalguma forma, cúmplices nossos nesta negligência e malignidade para com os seus irmãos mussulmanos do mundo. Algo há de certo. Contodo estes jovens (quase todos têm entre 20 e 35 anos) vivem deslocados dos seus (imaginários-sonhados-idealizados) países de origem, misturados com populações diferentes (de aspecto e costumes) que os despreçam e humilham, em persoa criando guettos de pobreza e segregação. Carecem de futuro, de trabalho, de esperança...
Mas também os despreçam e humilham em diferido por conta das vítimas de guerras injustas, pola crueldade com que tratamos os refugiados dessas guerras, pola cínica condena de Israel ou de EUA mentres nos mantemos aliados e lacaios seus. A City, nunca deve esquecer-se, é o embigo (um deles) do mundo mercantil e move milheiros de milhões de libras em mercadorias expoliadas ao terceiro mundo. Na ideia dos terroristas devem pagar por essa humilhação constante. E assim cobram.