A guerra perdida da França no Mali

A guerra perdida da França no Mali

Emmanuel Macron vai continuar a ingerência da França em África e quer alargar a intervenção estrangeira no continente, em linha com a política neocolonial de Paris nas últimas décadas.

Chegado ao Eliseu, o novo presidente francês reafirmou a opção pelo intervencionismo militar em África e pediu maior participação da Alemanha no combate ao «terrorismo internacional».

Na sua primeira viagem ao estrangeiro, Macron foi a Berlim prestar vassalagem a Angela Merkel. Dias depois, deslocou-se ao Mali para visitar o contingente militar francês em Gao, no Norte.

A França tem cerca de 4000 soldados na faixa sahel-saariana, 1700 dos quais em Gao, hoje uma das suas maiores bases militares em África.

Na histórica cidade nas margens do Níger, o presidente gaulês foi recebido pelo seu homólogo maliano, Ibrahim Boubacar Keita, um fiel aliado. Macron afirmou que «a Alemanha sabe que se joga aqui uma parte da segurança da Europa e do nosso futuro». E apelou a uma maior intervenção alemã: «Que o terrorismo islamista prospere na zona do Sahel é, evidentemente, um risco para a Europa. A França garante [militarmente] a segurança europeia no Mali e noutros teatros de operações, mas outros países podem fazer mais em termos de missões de apoio, de equipamento. Espero que a participação alemã, já perceptível, se intensifique».

Berlim é o principal contribuinte da missão militar de manutenção da paz das Nações Unidas no Mali (Minusma), que conta com 12 mil efectivos, a maior parte oriundos de países africanos.

Com demagogia, Macron reconheceu em Gao que «o terrorismo prospera sobre a miséria» e que, para o travar, «o melhor antídoto» é o progresso das condições de vida do povo. Enfatizou que, na luta contra o jihadismo, «tudo o que se faça no terreno será efémero se, ao mesmo tempo, não se investir de forma decidida em infra-estruturas, em educação, em saúde». Mas, escreve o jornal El País, não anunciou qualquer medida para o desenvolvimento.

Violência agrava-se


A intervenção militar francesa no Mali arrancou em Janeiro de 2013, no início do mandato de François Hollande, com a Operação Serval. Foi ampliada a toda a região do Sahel, com tropas em cinco países (Mali, Burkina-Faso, Mauritânia, Níger e Chade), mudando de designação em 2014 para Operação Barkhane.

Teve por objectivo declarado derrotar os grupos jihadistas, aliados dos independentistas tuaregues, que controlavam o Norte e ameaçavam avançar para Sul e entrar na capital, Bamako.

Em 2015, foi assinado em Argel um acordo de paz com algumas das organizações rebeldes, mas a sua aplicação tem sido difícil e as acções armadas não cessaram.

Não obstante a presença de numerosas forças estrangeiras – as tropas francesas e de outros países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, e os capacetes azuis da Minusma –, a situação está a deteriorar-se.

Segundo a Federação Internacional das Ligas de Direitos do Homem, o primeiro trimestre deste ano confirma a tendência observada em 2015 e 2016 de «um agravamento contínuo e sem precedentes da violência no Mali». A França está a perder a guerra no Mali.