Outra visão do Império Romano

Outra visão do Império Romano

Neste artigo vou comentar The Decline and Fall of Roman Britain de Neil Faulkner, um livro que têm mais de dez anos, mas desconhecido para muitos leitores dentro e fora do Reino Unido.

O livro parte duma ideia aparentemente singela, mas chea de consequências: que Roma não era um estado que possuía um exército; era um exército que possuía um estado.

Faulkner não nega a importância do escravismo no Império Romano, mas para il os escravos, como todo o demais, eram o resultado das guerras de conquista empreendidas por Roma. Cando acabou a expansão militar acabou também o subministro de escravos.

Uma segunda ideia era que este estado só era quem de explotar com eficácia sociedades agrícolas cuma base cerealista —as zonas gandeiras eram, como muito, marginais. E, ali onde se topava cos límites da agricultura cerealista da antiguidade, Roma não podia prosseguir coa conquista. Ou se prosseguir não podia conservar o conquistado, vaiam como exemplo os vários intentos de conquistar a Escócia ou a Germania, todos rematados num fracasso —ainda que bem dissimulado, o fracasso, pelos escritores romanos.

Mas cando chegar a estes límites Roma atopa-se metida num problema insolúvel: precisa um exército igual de forte ou mais que antes mas já não pode paga-lo co as conquistas, é a própria sociedade romana a que tem que pagar. E de ahi se seguem as crises do século III e o que Faulkner chama a contra-revolução do século IV; porque o estado romano só pode manter ao exército saqueando á população do Império e uma parte dela não se deixa.

A ousadia de aplicar uma perspectiva marxista a um tema como Roma e a uma ferramenta como a arqueologia deu lugar a críticas e a que o livro seja pouco conhecido com ser de moito interesse. Um exemplo é que o modelo fornece explicações singelas para cousas que não se querem ver como a terra escura. Na maior parte das cidades britânicas de final do Império (a época da muralha de Lugo) há zonas cobertas por uma capa de terra cum alto contido de matéria orgânica que adoitam considerar-se um enigma. A explicação de Faulkner é que o sistema para se desfazer do lixo colapsara e os solares dentro da cidade faziam de vertedoiros, e nalgum caso, mesmo edifícios públicos como o teatro. Uma ideia e um cheiro que não se associa habitualmente coas cidades romanas.

A aplicação deste modelo á Galiza abre novas perspectivas. A mais importante é que boa parte do território da Gallaecia devia adiçar-se á agricultura bem desde antes da conquista romana ou o exército não teria de que se manter. A visão duns montanheses atrasados que conta Strabo era por tanto principalmente propaganda. Mesmo o próprio Strabo fala de que elaboravam e bebiam cerveja. E como se pode elaborar cerveja sem cultivar cereais?