Calçetem o país


Á "calçada à portuguesa" foi uma criação dum tal General Eusébio Furtado quem, na altura do 1842, empreendeu uma inovadora inciativa: com um simples desenho de ziguezague e a mão-de-obra dos então chamados "grilhetas" (prisioneiros), pavimentaram toda a parada do Castelo de São Jorge (Lisboa) com aquilo que hoje orgulha e torna únicos; a calçada à portuguesa.

A técnica de origem romana e foi introduzida em Portugal por D. Manuel, ao pavimentar com seixos rolados a área que rodeia a Torre de Belem. Mas foi já após o terramoto que Eusébio, depois de marcar o "primeiro golo", levou praticamente toda a cidade a render-se à beleza das extensas zonas pavimentadas, nomeadamente a Baixa, num movimento que veio a expandir-se pelo resto da Nação.

A calçada à portuguesa é identidade nacional, genuinamente artesanal, em que, com martelinhos de 800 gramas, se cortam à mão pedaços de poucos centímetros de calcário, granito ou basalto que artisticamente combinados, nos revelam a grandiosa expresão da cultura do povo português.

Lisboa, em paticular, é uma das poucas cidades do mundo onde vale mesmo a pena olhar para o chão. Baixe os olhos e caminhe sobre peixes, flores, pássaros e caleidoscopios ondulados, motivos que os Portugueses encomtraram para exprimir, transformando as suas praças e passeios públicos em rendilhados de pedra, que envelhecem com as memórias de quem por lá passa e que insinuam o orgulho de quem, no princípio de século passado, marcava na calçada o gosto de ser português. Essa marcação fez-se um bocadinho por todo o lado. A pátria, quando chegava, calcetava e o Império, simbolicamente marcava presença. O espaço do Terreiro do Paço tinha, até a desafortunada requalificação feita há uns anos, estava coberto com um lindo tapete de desenho com motivos ondulantes e vieiras, estas últimas em clara homenagem a Santiago de Compostela.

Singelas pedras pretas e brancas também são produzidas na nossa pátria galega. Hoje, que se devería procurar uma saída á crise económica, tan singela como re-utilizar os restos das pedreiras que inzaram às centenas os montes galegos. Autarcas municipais e autoridades públicas galegas tenhem uma oportunidade de reconverterem, de jeito económico, valorizando o chão de forma tão genial como o fizeram os portugueses, através de uma solução tão ecológica e esteticamente brilhante, tendo em conta as suas características de permeabilidade aos solos e adaptabilidade ás superfícies.

Brasil, Timor-Leste, Angola Moçambique, Macau, Cabo Verde procuraram os tapetes de pedra. Também Alhariz, Monforte de Lemos, Ribadeo, Salzeda de Caselas e os demais governos nacionalistas estão na verdadeira essência dos valores nacionais galegos para, por um lado olhar de cabeça baixa, pedindo-nos que olhemos para o chão das suas ruas e praças; por outro lado, é-nos exigido que saibamos estar com a cabeça bem levantada, que tiremos partido deste e doutros valores nacionais galegos, pois é isso que o mundo espera de nós.

Não hesitemos em caminhar com a cabeça erguida, mas com os pés bem assentes no chão, pois as nossas calçadas serão um motivo realmente nosso.