Num estado de alarma permanente
Cada dia escutamos notícias que nos alteram o ânimo. Sentimos que habitamos num estado de alerta permanente. No que o facto de pertencer a uma determinada etnia ou credo, pode transgredir enormemente os direitos mais elementares duma pessoa. Inevitavelmente estamos a viver o ressurgir duma inoculação do ódio na sociedade, que faz acrescentar a intolerância e a violência nas ruas das nossas cidades, dos nossos países, do mundo inteiro. Estamos assistindo a uma violência inaudita, na que a única ração que se expõe é a diferencia. O sangue das vítimas esparge-se pelas frias pedras das calçadas e ficam infinidade de vezes, soterradas baixo as pesadas lousas da injustiça. Permanecem mudas, às portas dum povo em declive. Na boca do mundo existe um gemido imenso, indestrutível, que infortunadamente abre acessos ininterruptos. Os genocidas continuam com o extermínio e o fazem muitas vezes, ao meu entender, com o beneplácito, a permissão das grandes potências e o massacre semelha não ter fim, mais uma vez.
Eu acho que, são muitas as vítimas que seguem permanecendo agachadas, como se não existissem. Encurraladas, sitiadas em campos de refugiados. Nada é diverso, não há uma mudança real. Países supostamente sensíveis, pecham fronteiras para que não possam entrar pessoas que se encontram numa situação limite. Esta é a realidade que estamos a viver todos os dias. E logo, gabam-se de ser boas pessoas, empáticas com a dor alheia. Mas pelo contrário, continuam a criar barreiras e a reprimir, pelo simples facto de ser distintos. O mundo continua submetido às decisões partiditas duns poucos privilegiados, que consideram que o seu pensamento é o único que deve ser respeitado.
Portanto, neste espaço enganoso, coberto de lianas camufladas de bondade, habita a desesperação dos mais pobres, dos deserdados.
Nesta situação de desânimo a literatura, às vezes, pode ser a maior libertadora de endorfinas, capaz de combater o stress que nos afoga, que nos aprisiona. Ela em ocasiões, consegue expulsar a parte nociva que debilita o nosso estado imune. Mas com certeza, não resulta fácil deixar-se envolver pela magia da palavra, pela química da felicidade, porque as situações de contínuo são sumamente duras, quase impossíveis de digerir.
Ainda assim, imersos como estamos num esperpento, num mundo rodeado de guerras. Procuramos adentrar-nos no lintel do otimismo. A pesares de que, ainda há lugares no mundo onde persiste a lei do medo e isto, por desgraça acontece em muitos povos. Mas, alguns não tenham a mesma possibilidade de aparecer nos meios. São esquecidos. Qual é o motivo desta invisibilidade? Possivelmente seja política. Não obstante este é um facto que semelha impossível erradicar. Já que a extrema frialdade quotidiana atravessa-nos o coração, em forma duma rotatória de imprensa. De titulares pretos, impressos nos jornais matutinos. Nos que as palavras vagam pelas ruas frias e batem-nos nas faces todas as feridas deste antártico inverno, assolapado pelas inúmeras e estridentes luzes de néon.