Celtas na Galiza: um estado da questão

Celtas na Galiza: um estado da questão

Há algo mais de sete anos que se publicou em Terra e Tempo o meu primeiro artigo sobre a polêmica dos celtas na Galiza. Esse artigo Celtas, pêro que celtas? leva a esta altura mais de 19.000 visitas, o que não está nada mal, e parece um bo momento para avaliar como está à situação comparada co momento da sua publicação. Sobre todo porque algumas cousas tem cambiado bastante.

A genética

O grande câmbio nos últimos anos foi a recuperação de ADN antigo. O resultado mais surpreendente é que os corpos que aparecem da cultura do Vaso Campaniforme, arredor do 2000 ane, tem um ADN semelhante ao das populações modernas. Isto é especialmente importante no caso da Irlanda, que é uma ilha. Porque, se a população irlandesa não variou substancialmente nos últimos catro mil anos, então tinham que estar a falar uma língua céltica ou proto-céltica já nesse tempo.

Isto retrotrai a formação das línguas celtas a antes do 2000 ane na beira do Atlântico em lugar de no 500 ane no centro da Europa. Um câmbio significativo e que não se pode agachar debaixo da alfombra, já veremos que há outros que sim.

Estes novos dados tem uma quantidade de avantajes e outra de inconvenientes, nomeadamente o feito de que na maior parte do território galego os cadáveres não se conservam. Ainda é cedo para tirar conclusões no caso da Galiza.

Os celtas de Cunliffe e Koch

O que se tem esquecido cuidadosamente é o Tartessian de John T. Koch. A sua proposta de que as inscrições do Sudoeste da Península estão escritas numa língua celta, permite traduzir as inscrições que se conservam e as traduções concordam co que se esperaria numas inscrições funerárias. Isto situaria uma língua celta no Sul da Península dous centos e cinquenta anos antes de que supostamente aparecessem as línguas celtas no Centro da Europa. Não há argumentos para o rebater, por tanto não se debate, não se fala do tema e já está.

A cousa começou a ser mais difícil de esquecer cando Barry Cunliffe, um dos arqueólogos de mais prestígio nesses eidos, começou a colaborar com Koch no projecto Celtic from the West. O projecto leva catro ciclos de palestras recolhidos em cadanseu tomo. Estamos agora a esperar a saída do quarto tomo Exploring Celtic Origins, que está a demorar sem data fixa de saída.

Mas temos um aperitivo na segunda edição de The Ancient Celts de Barry Cunliffe que aposta por uma origem dos celtas numa época anterior ao 1300 ane; o que agora encaixa com os dados genéticos que estão a se publicar.

Isto reivindica a proposta da teoria da continuidade de Alinei e Benozzo e, ainda mais atrás, a de Renfrew sobre a formação das línguas célticas na sua localização actual.

The Ancient Paths de Graham Robb

Um dos livros mais importantes sobre o tema; que case ninguém vai ler porque não foi publicado numa coleção académica e o autor é um especialista em literatura francesa. O livro começou co projecto duma viagem em bicicleta seguindo os passos de Heracles, que levou ao autor a uma nova teoria sobre como construíam os celtas os seus caminhos (seguindo os raios do sol por no solstício) e a uma apreciação do nível da ciência e tecnologia das sociedades celtas antes de serem invadidas por Roma. Infelizmente o livro trata principalmente de Francia, é mágoa que o autor não levasse a cabo uma viagem pola Península.

A toponímia celta de Galicia de Fernando Cabeza Quiles

Um experimento: entrar no Google Maps, escrever celt e ver que é o que aparece. Os primeiros topônimos são os nossos Celtigos … os seguintes estão em Turquia. Ouviram dizer que esses nomes são únicos em Europa?

Pois assim todo o resto do livro. Um esforço importante com mói pouca repercussão na consciência do país.

Galaicos

Para dar uma idea de como estamos, no catálogo da exposição Galaicos que acaba-se de publicar a palavra celta esquiva-se cuidadosamente, suponho que para não ferir sensibilidades. Ainda que resulta difícil ler a introdução que se faz, por outra parte excelente, sem concluir que se está a falar de celtas. Poderia ser bastante pior: o título, há poucos anos ainda seria “castrexos”.

A exposição faz um panorama da cultura dos castros que começa no Bronze Final. A cultura é a mesma até a ocupação romana e os romanos acham que os galaicos são celtas. Pomponio Mela dizia explicitamente que toda a costa estava ocupada polos celtas, tampouco é o único. Logo, esses celtas levavam na Gallaecia desde o Bronze Final ou antes.

Canto vai tardar esta lógica em ser admitida?

Escolham um assento cómodo…