EUA mandam tropas para os Camarões
No quadro da sua estratégia de domínio global, e tal como procura fazer noutras partes do mundo o imperialismo, com os EUA à frente, tem reforçado continuamente a presença militar em África, visando facilitar a pilhagem das suas riquezas e, até, a sua recolonização. Sempre com o argumento do «combate ao terrorismo» e também à «pirataria», tropas dos EUA estão baseadas no Chade, no Níger, no Burkina Faso, no Sudão do Sul, na Etiópia ou no Uganda. Num eixo que cruza o continente de Oeste a Leste, do Golfo da Guiné ao de Áden.
Os Estados Unidos continuam a intensificar a ingerência e a ampliar a presença militar em África.
A Casa Branca anunciou o envio de uma força de 300 soldados para os Camarões e o transporte para aquele país centro-africano de um número não especificado de drones, para tarefas de vigilância e reconhecimento aéreo e, sobretudo, para operações de obtenção de informações, na luta contra «grupos extremistas».
Numa carta ao Congresso, o presidente Barack Obama justificou a iniciativa com «os interesses da segurança nacional» dos EUA e esclareceu que os militares permanecerão nos Camarões «até que o seu apoio já não seja necessário».
Os soldados estado-unidenses «estarão armados para defender-se de possíveis ataques» mas não terão tarefas de combate, especificou o Pentágono. Actuarão em coordenação com o exército camaronês e ajudarão os países da região a garantir a segurança das fronteiras. Ficarão instalados em Garoua, no Norte, onde a aviação camaronesa tem uma base a partir da qual flagela os «insurrectos infiltrados».
O Boko Haram, um bando jihadista associado ao Estado Islâmico – que os EUA fingem bombardear na Síria e no Iraque –, expandiu a sua acção de terror (ataques a escolas, mesquitas, igrejas e mercados, raptos de mulheres e crianças, atentados com bombistas suicidas). Para além da sua zona de influência no Nordeste da Nigéria, tem feito incursões nos vizinhos Camarões, Chade e Níger, cujos exércitos constituíram, com o da Nigéria, uma força regional para enfrentar o grupo.
Estima-se que, desde 2009, a insurreição do Boko Haram tenha causado 17 mil mortos e dois milhões e meio de deslocados e refugiados. Neste mês de Outubro, a mortandade recrudesceu e, nos primeiros 20 dias, contam-se mais de 100 vítimas civis.
O novo presidente da Nigéria, general Muhammadu Buhari, que tomou posse em Maio, prometeu acabar com a violência. Visitou os Estados Unidos e proclamou a luta contra o Boko Haram a prioridade do seu país, o maior exportador africano de petróleo.
Forças dos EUA de costa a costa
O envio de tropas norte-americanas para os Camarões não é uma novidade na região à volta do Lago Chade. Em Maio de 2014, Washington despachou para N’Djamena 80 especialistas militares e dos serviços secretos, para ajudar a localizar mais de 200 raparigas sequestradas pelo Boko Haram, que aliás nunca foram resgatadas. O Pentágono também colabora com as forças armadas da Nigéria, fornecendo informações, formando oficiais, vendendo armamento.
No quadro da sua estratégia de domínio global, e tal como procura fazer noutras partes do mundo, o imperialismo tem reforçado continuamente a presença militar em África, visando facilitar a pilhagem das suas riquezas e, até, a sua recolonização.
«No continente africano, o exército, a força aérea e a marinha dos EUA formam uma malha apertada, com a presença permanente de conselheiros e de adidos militares», escreve esta semana, na revista Jeune Afrique, o jornalista Mathieu Olivier. Segundo um documento oficial do Departamento de Estado, que pormenoriza a presença militar norte-americana no mundo em Junho de 2015, há funcionários ligados ao Pentágono colocados em permanência em 45 dos 54 estados africanos.
Para além desta «diplomacia militar», há tropas no terreno, cerca de cinco mil efectivos numa dezena de países. Quatro mil militares estão estacionados na base Lemonnier, em Djibuti. Mais umas dezenas utilizam, desde há vários anos, o quartel de Simba, no Quénia, para lançar acções contra o grupo islamita Al-Shebab. E sempre com o argumento do «combate ao terrorismo» e também à «pirataria», tropas dos EUA estão também baseadas no Chade, no Níger, no Burkina Faso, no Sudão do Sul, na Etiópia ou no Uganda. Num eixo que cruza o continente de Oeste a Leste, do Golfo da Guiné ao de Áden.
Em alguns destes países (Níger, Burkina, Chade), as tropas expedicionárias americanas estão aquarteladas ao lado de forças francesas aliadas. Só na faixa do Sahel/Sahara, a França – com uma agressiva política neocolonial em África – dispõe hoje de três mil militares, equipados com aviões, helicópteros, drones e blindados, com bases no Mali e no Chade.
E isto tudo, claro, sem contar com a força de intervenção rápida do Africom – o comando militar dos EUA para África –, com base em Morón de la Frontera, no Sul de Espanha, que alberga até 3500 marines, servidos por modernos aviões e helicópteros.
Um poderoso dispositivo militar sempre pronto a intervir em África, lá onde os interesses do imperialismo o exijam, contra a soberania dos estados e o direito dos povos à paz e ao desenvolvimento.
*Este artigo foi publicado no “Avante!”
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