Nomes galegos

Por motivos que não vêm ao caso, levo tempo a interessar-me na onomástica e, como consequência, venho consultando diversas páginas de internet sobre nomes de persoa. A maioria fala de nomes para meninos e meninas ou, ainda pior, para bebés. Certo que o nome se impõe (literalmente) na infância e, nem sempre, são os progenitores os que decidem. Mas esta dedicação às futuras crianças parece aceitável pois são as futuras mães e pais os que desejam procurar um (ou vários) nomes para a sua criança. Poucas são as páginas que dedicam ao asunto a seriedade própria dum tema de lingüística, cultura e história que na verdade é o que é a onomástica.
Muitas destas páginas (as de nomes de crianças), com as que um tropeza a cotio, também dão a origem e significado dos termos que utilizamos para nomear persoas. É curioso o sucesso que tem este aspecto nas listas de nomes e entre o público em geral. Tal vez o asunto de maior sucesso. «Que se o nome tal é árabe ou xermánico, que se significa preparado para todo...». Infelizmente esta informação acostuma ser bastante inexacta quando não direitamente errónea ou mesmo falsa. Com frequência surpreendente um nome pode ter várias origens ao tempo e, por tanto diversos significados. Mas também com muita frequência o significado é uma hipótese de algum filólogo, aficionado ou profissional se é que tal categoria profissional existir, que alguém decide elevar a lei universal.
Mas ainda que forem todos os significados contrastados etimológicamente... pensemos a sério. Alguém chama Águeda uma menina polo significado de boa, bondosa no grego original? Alguém impõe o nome de Raquel por ser a ovelha do senhor (ou apenas ovelha) no hebreu original? Acho que não e, provavelmente, os que sabem o significado tendem a esquecê-lo em aras da sonoridade ou apreço persoal associado normalmente a uma persoa do nosso entorno. Andreia (em grego significa viril) é outro exemplo curioso de nome de mulher bastante usado a pesar do seu significado.
Do mesmo geito acontece com nomes masculinos ou habitualmente de homem. Neles, e, preferentemente, nos que se classificam como germanos (ainda que muitos nunca se usassem fóra da península Ibérica) adoita ser comum que algum dos seus dous elementos (invariávelmente parecem ter dous elementos) tenha o significado de valor, vitória, coragem... ou qualquer outro valor bélico. Guilherme, por exemplo, “significa” o corajoso defensor (procedente de will (vontade) + helm (protecção)) ainda que poderiamos interpretá-lo também como “futuro capacete” , de seguirmos outros significados do inglês, ou mesmo “agente de seguros” por aquilo da vontade de protecção. É brincadeira. Estou certo de que, ao pouco tempo de se originarem, dixaram de ser nomes parlantes e, se o eram, poucos dariam por isso.
É curioso, também, ver como nomes neutros na sua origem ou, melhor, epicenos (que valem tanto para masculino como para feminino) acabam por especializar-se como o Raquel antes nomeado. Por que Raquel é nome feminino entre nós e Gabriel, Miguel, Abel ou Samuel não?
Também há motivos ideológicos para pormos nomes. O nome representa um ideário político como Céltia, Leo, Adolfo ou José Antônio (tristemente comum no nosso país), uma crença como Mariano, Ludivina, Dores, Imaculada ... ou simplesmente uma admiração por actores, políticos ou quem se quisser, até mesmo reis que é a admiração de mais tradição. Para este caso temos um dos dous nomes de Castelao: Afonso polo rei e Daniel quem sabe por quê. Eis também as modas. Aqueles Yónatan, Yénifer ou Braian escritos assim ou de qualquer outra forma, não galega por suposto. Nem falarmos dos bizarros Usnavy ou Japibirdei doutros pagos.
Óbvio que um motivo ideológico ou de crença deste tipo é procurar um nome “galego” para os nossos descendentes, mesmo que esta não seja uma preocupação muito comum. E nesses listados de nomes um pode achar verdadeiras curiosidades. Os criadores dos elencos de nomes galegos adoptam critérios de selecção escuros para mim e incluem nele casos tão curiosos como Caca ou Cacca (sic, ver http://www.nomes-galegos.info/wiki/Categor%C3%ADa:Nomes_que_comezan_por_C ) de origem céltica relacionado com Cacabelos (!) mas não dão significado... será o óbvio? Tenho esperança de que não seja.
Outro exemplo é Burrus (sic, na forma latina pura e dura) também céltico e de significado, sei-que, de pelo rizo. Provavelmente queiram dizer de “cabelo crecho” ou riço ou em caracóis. O mais possível (e isto o digo eu) é que o nome seja uma variante do Pyrrhos grego, que significa ruivo, roxo.
E com estes exemplos podemos formular-nos umas questões: Quando um nome é galego? Que condições há de reunir um antropónimo para ser aceite no olimpo da galeguidade? O lugar onde se registou pela primeira vez ou onde se regista hoje? A sua fonética? A forma escrita? O uso entre os galegos? e, neste caso entre os galegos espanhois ou entre os galegos galeguistas? e os reintegratas têm nomes específicos ou usam os portugueses? e os portugueses podem adoptarse como galegos? ou devem permanecer onde o destino dos povos os deixou? Quantas dúvidas, senhor!
Analisemos um exemplo: Cibrán/Cibrão/Cibrao é indiscutívelmente um nome galego porque nas suas formas (1ª e 3ª) regista as formas fónicas das áreas dialectais do galego da Galiza. A segunda forma, com suportar ambas as formas fónicas, deve ser considerada portuguesa? Por outro lado Cipriano, a sua forma mais próxima ao étimo e coincidente com o espanhol, deve ser regeitado por não ser genuinamente galego? E que deveriamos dizer de Ciprián, forma empregada nos sinais viários para designar o parque empresarial próximo de Allariz, que fica a medio caminho entre galego ocidental e español de Espanha? Sem dúvida é uma forma do castrapo, não?
Cal o significado deste nome. Pois em origem, alá quando ainda nem era antropónimo mas apenas adjectivo gentilício (que indicava origem geográfica), significava “nativo ou próprio de Chipre” (procede de kyprianus, latinização do grego κυπριάνος) mas em última instância o nome grego de Kypros significa cobre. Portanto Cibrão significaria tanto “o nativo de Chipre” como “cobrizo”, “da qualidade do cobre”. Mas ninguém hoje considera esses significados. Tal vez, alguns pensem no livro para achar tesouros agachados (se têm suficiente idade e/ou cultura) mas, se hoje alguém impõe este nome a um menino é porque gosta da sua sonoridade ou porque tem um especial significado para ele por outros motivos.
Para concluir. Acho que é legítimo procurarmos que os nomes mais próximos ao nosso acerbo tradicional e com a forma mais nossa sejam preferidos aos que tenham formas alheias ou mesmo aos nomes claramente estrangeiros. Ressuscitarmos nomes que ninguém usou em mais de mil anos e que não têm outra conexão connosco que o feito de o levarem habitantes da Galiza daquel tempo parece-me inecessário. Mas qualquer nome é nosso se o leva um de nós.
,-------------------------------------------------------------------------------------------------
Nota da Fundación Bautista Álvarez, editora do dixital Terra e Tempo: As valoracións e opinións contidas nos artigos das nosas colaboradoras e dos nosos colaboradores -cuxo traballo desinteresado sempre agradeceremos- son da súa persoal e intransferíbel responsabilidade. A Fundación e mais a Unión do Povo Galego maniféstanse libremente en por elas mesmas cando o consideran oportuno. Libremente, tamén, os colaboradores e colaboradoras de Terra e Tempo son, por tanto, portavoces de si proprios e de máis ninguén.