Enchede de vassalos os carvalhos

Enchede de vassalos os carvalhos
Não duvidamos de que Pardo de Cela pronunciara a famosa frase, a pergunta é: En que tono a pronunciou?

Tradicionalmente, a historiografia oficial vem considerando a Pedro Pardo de Cela como um inimigo azérrimo dos Irmandinhos e partidário duma política de mão dura com eles uma vez vencidos. A base desse juíço é uma frase, atribuída por uma testemunha, chamada Pedro Paxarinho, ao mesmo Pardo de Cela durante uma conversa com o Conde de Lemos na que lhe diria que enchesse de vassalos os carvalhos. Ao que o de Lemos responderia que não se ia manter de carvalhos. Este diálogo está incluído no Preito Tabera-Fonseca, uma fonte escrita sessenta anos depois dos feitos e, ainda mais importante, em castelhano.

Na maioria dos trabalhos que mantém que Pardo de Cela estava em boas relações coas Irmandades, este documento considera-se pouco de fiar por ser muito posterior aos feitos ou não se trata. Nomeadamente nos trabalhos de Anselmo López Carreira sobre o tema, o último esta mesma semana em Sermos Galiza. Neste artigo, pola contra, imos tentar explicar porque o documento parece de fiar e que, por raro que pareça, concorda perfeitamente coa hipótese de que Pardo de Cela tinha boas relações cos irmandinhos.

O preito Tabera-Fonseca fora empreendido polo arcebispo de Compostela Juán Pardo de Tabera, no ano 1524, contra o seu antecessor Afonso de Fonseca por não ter reconstruído as fortalezas da Mitra Compostelá que foram derrocadas ou danadas polos irmandinhos. O argumento do arcebispo Fonseca fora que as fortalezas não se poideram reconstruir porque o mesmo acontecera em todo o reino. Não era possível obrigar aos irmandinhos às reconstruir; porque as que foram derrocadas o foram de maneira legal e com acordo as ordes do rei Henrique IV. Ordes e autorizações que se citam profusamente. No caso do arcebispo Fonseca estava ademais o feito de que não podia ter entrado em Compostela, Pontevedra e outras vilas do arcebispado sem chegar a um acordo cos irmandinhos, ja que não tinha forças para as tomar ao assalto. Sobre isto, o arcebispo Fonseca preferiu não falar muito.

As fortalezas do Conde de Lemos, Rodrigo Osorio, eram o principal argumento de Tabera, ja que o conde obrigara aos seus vassalos ás reconstruir todas, e mais altas do que antes estavam. Cando menos isto é o que referem as testemunhas. Ha uma serie de testemunhas, que contam, entre outras cousas, que o Conde de Lemos obrigara aos seus vassalos a reconstruir as suas fortalezas e mesmo mandara enforcar a um dos seus vassalos por se negar a participar nos trabalhos de reconstrução.

É neste contexto, onde temos que valorar o relato de Pedro Paxarinho. O mariscal Pardo de Cela, que era genro do conde de Lemos, veu falar com el. Então tivo lugar o famoso intercâmbio em que Pardo de Cela animava ao de Lemos a encher de vassalos os carvalhos e o conde respondia que não se havia manter de carvalhos. O documento, claro está não pode indicar o tono da conversa e menos estando redigido em castelam e sessenta anos depois dos feitos. Mas o resultado da conversa foi bastante claro: o conde não enforcou nenhum vassalo mais.

A interpretação habitual destes feitos é bastante contraditória cos feitos. O primeiro porque o conde de Lemos não precisava que ninguém o animasse a enforcar vassalos, já o estava a fazer. O segundo, que a intervenção de Pardo de Cela teria um resultado exatamente oposto ao esperado, cousa que não se explica. Por último, essa referência do conde de Lemos a se manter de carvalhos, leva a pensar numa frase feita bem conhecida: “has comer hostias”. Pode que Pardo de Cela não chegara á dizer, mas o conde de Lemos ouviu-na perfeitamente. Isto é, o relato resulta bem mais lógico de supormos que Pardo de Cela estava a actuar como mediador de parte das Irmandades, o que não implica que el mesmo fosse irmandinho.

Compre recordar que todo isto encaixa com artigos já conhecidos, mesmo um de Anselmo López Carreira em Terra e Tempo: Pardo de Cela á luz da Historia. Assim, entre outras cousas: não há testemunha nenhuma de que Pardo de Cela tivesse atuado de forma similar contra nenhum dos seus vassalos. Ao contrário tivo boas relações cos irmandinhos em Viveiro, antes e depois da revolta de 1467. Pode ser que antes da revolução não se decatasse de que eram das Irmandades —é difícil mas não impossível—. Pero como explicar o de depois?

A memória popular tampouco cadra cum senhor feudal despótico, todo o contrário, a população da Marinha considerou a Pardo de Cela um mártir desde o momento da sua execução. Se os que teriam sofrido directamente as suas atividades gardavam bom recordo del é que a interpretação tradicional falha e falha bastante.