Diego De Giráldez, NAS-vegando no seu universo artístico

Diego De Giráldez, NAS-vegando no seu universo artístico

Ele percorre de modo exato o rego sanguíneo das artérias, das veias, a funcionalidade certa dos órgãos e a mente dos seres que amostra, imersos nos seus diversos sentimentos e pensamentos.

O universo abre-se, nas claras rotas que se expandem a través das pinceladas mestras, expressam a poesia adquirida nas cores, nos volumes dos corpos, que aporta a atividade implícita nos neurónios, a necessária, que possui a capacidade de transmitir nos lenços a magia.

Quando observamos os seus quadros, temos a certeza de interatuar nos traços diretos do artista, sentimo-nos próximos às personagens que se amostram nas obras. Semelha que são parte da nossa família. Falam-nos de si mesmos com claridade, com a força inaudita do que não pode permanecer por mais tempo calado, apresado.




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Fragmentos de anatomía; 2014

As linhas sulcam as extensões, formam a exata pegada de autenticidade. O sino identitário que liga o carpo com as falanges. A mão possui as características, a perfeição idónea que se requer para o seu manejo. Os traços marcam as fases, as modificações que surdem das patologias internas, espalham-se ilimitadamente, assentam-se nas polpas dos dedos, nas impressões digitais.

O bronze tem vida, a vida que lhe achega o seu criador.



,Cristo homem; 1982

O rosto do Cristo Homem atravessa o lenço, e plasma nos olhos as sensações mais duras do humano frente a morte, ou a vida. É a personificação evidente da aceitação do martírio, a triste exaltação do sacrifício. Na fisionomia pode-se observar a desesperança do desempregado, do desafiuzado, do imigrante...

O semblante mais desprotegido da discriminação. Os músculos contraídos pela dor penduram-se das pupilas do observador. Toca-lhe a epiderme, estremece-o.



,Campesinho; 1981

Na face, o campo reflete a aspereza mais severa, a marcação indelével da aixada. Observa-se com uma minuciosidade surpreendente os sucos que deixou o sol na sua pele à causa do transcorrer do tempo. A dureza do trabalho formaram profundos pregues nas contornas dos olhos, na frente,. São os mapas plenos, que evidenciam as cadeias montanhosas, os irregulares terrenos que se pegam nas costas. Como um fado que nos medra, que se pendura nos sustentáculos dos castanheiros. Está sobre a artesa, no equilíbrio do taco de madeira, na inconsistência do cigarro que pende da comissura dos seus lábios. Com os olhos fixos num ponto impreciso, na incerteza. O ser expectante ante a imprevisível natureza.


,Medo à partida;1984

A mala é uma elegia à tristeza do adeus, da marcha, do desenraizamento. A alma, é uma ave morta ao carão da despedida, da migração, o deslocamento imposto e inevitável. O lar transforma-se num espelho humedecido pelo pranto, fica trás as folhas arrancadas dos carvalhos da memória, a 20.000 km de distancia, hospedado no hipotálamo, e fere-nos com a intensidade do lategaço do desterro.

Atravessa-nos com a frieza do cru exílio, envolto, decaído entre os fotogramas da nostalgia. As folhas extraídas, rotas, marcam as tristes imagens das lembranças, que finam acima da velha mala.



,A labrega; 1980

A dona tem a seguridade implícita nas suas pupilas diáfanas, emana doçura o leve sorriso que se percebe no seu olhar, nos lábios. O rosto enquadra-o um lenço de lá que lhe cobre a cabeça, acima um velho chapéu de palha delimita a exposição da pele aos raios do sol de verão. As rugas sulcam-lhe a geografia, intensificam-se pela senhardade irremediável das ausências e pelo tempo que velozmente se esvai por entre os dedos.


As galinhas peteiram-me nas coxas, despertam-me da insonhação provocada pela sua arte, e olho o quadro com a perceção de estar, de viver nele.